São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Antonio Kandir busca o consenso perdido

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Antonio Kandir busca o consenso perdido
Poucos terão saudades da era Collor, menos ainda de suas personagens. Foi uma época ainda antes do impeachment, marcada pela arrogância epela desqualificação da política. No máximo pela transformação plena da política em puro evento de mídia.
Mas já naquela época o enconomista Antonio Kandir , ocupando a secretaria de Política Econômica, destacava-se por habilidade e vocações distintas, senão opostas às de muitos colloridos.
Sempre tranquilo, Kandir era quem sempre explicava melhor os rumos da política econômica. Extremamente didático, ecoando ainda a experiência como professor na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e na Unicamp (Universidade de Campinas), Kandir acabou tomando gosto pela política ao longo das penosas a afinal inúteis negociações em torno do ‘‘projetão’’.
Articulista da Folha e consultor de empresas depois de deixar o governo, Kandir sai agora candidato a deputado federal pelo PSDB. E lança em ‘‘Brasil Real - Construção da Cidadania, da Moeda e do Desenvolvimento’’ uma síntese de sua interpretação da inflação brasileira, calcada na idéia de ‘‘fragilidade financeira do setor público’’ e quelhe valeu um prêmio acadêmico quando publicada como tese de doutoramento.
Kandir é, como economista, já um pouco o que talvez seja a maioria dos políticos: um batalhador de consensos. Afinal, nada polarizou mais nos últimos anos que o debate sobre a inflação. Mas Kandir não abraça não abraça totalmente nem as teses monetaristas nesm as estruturalistas. Fala em fragilidade das finanças públicas, mas se recusa a tomar simplesmente o déficit público como causa da inflção. Cita o exemplo o governo dos Estados Unidos que, apesar do déficit, consegue financiar-se.
O Consenso, entretanto, depende da política. Segundo Kandir, recuperar a capacidade de crédito do Tesouro passa por atacar problemas estruturais como a crise da Previdência , descentralização desagregadora trazida pela Constituição de 1988 ou a falta de autonomia do Bnaco Central. Em cada um desses casos as resistências políticas são enormes. Os anos passam e as reformas estruturais não acontecem.
Mas quem, afinal, bloqueia essas mudanças? Kandir dá bastante ênfase ao pacto articulado, no final do regime militar, entre a burocracia e as oliquarquias das regiões mais atrasadas. Várias vezes Kandir alerta para o impasse da ‘‘sobre-representação’’ de regiões economicamente capengas, desde o famoso pacote de abril de 1977.
Para Kandir o sucesso do real, ou seja, de uma autêntica estabilização, depende antes de mais nada da possibilidade de superar esse pacto com o atraso e o corporativismo.

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