São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Viagem ao futuro foi primeiro relato longo de H.G.Wells

FRANCISCO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Viagem ao futuro foi primeiro relato longo de H.G. Wells
Ponha num mix "De Volta para o Futuro", "2001, uma Odisséia no Espaço", Darwin, Marx, uma especulação nata de Júlio Verne, e o leitor tem nas mãos "A Máquina do Tempo", do inglês de mil e uma mentes Herbert George Wells (1866-1946).
Esta novela de 1895 foi o primeiro trabalho longo de Wells, que a publicou aos 29 anos, após seis revisões rigorosas –nota aqui para a tradução: correta, simples, como a prosa do autor.
Como o livro, a vida de Wells é fascinante. Filho de um jogador profissional de cricket e dono de uma loja de porcelana, Wells tornou-se caixeiro aos 13 anos, para suceder o pai. Não gostou da vida atrás do balcão –para nossa sorte. Acabou por se formar na Universidade de Londres como primeiro aluno de sua turma em zoologia, após ter estudado com Huxley (não se pode esquecer que uma de suas obras-primas é justamente "A Ilha do Dr. Moreau").
Com a máquina do tempo sua vida mudou. Passou o escritor a ser um dos porta-vozes oficiais condecorados de uma nova corrente literária que se desenhava então, a ficção científica. "O Homem Invisível", um de seus torpedos literários, que também iria dar em filme, viriam em 97 e também seria um grande sucesso, popularizando Wells como nenhum outro escritor após Dickens havia conseguido.
O auge de sua fama seria medido por um jovem cineasta, Orson Welles, que, empolgado com "A Guerra dos Mundos" (1898), 40 anos depois o transformaria num programa radiofônico que levaria o pânico a Nova York, aos berros de: "Os marcianos estão invadindo a Terra."
Com uma vida amorosa e sexual intensa e problemática, sabe-se que Wells se casou duas vezes. O primeiro casamento, com sua prima Isabel Mary, durou dois anos. O segundo, com Ammy Bobbins, foi até 1927 e, segundo o escritor, a mulher sabia que ele era infiel. Conta-se também em Londres que até o começo da Primeira Guerra, Wells era conhecido como um Casanova.
Em "A Máquina do Tempo", um grupo de personagens-padrão, como o Médico, o Editor, o Jornalista e o Psicólogo, estão reunidos para ouvir o que tem a contar o Viajante do Tempo, que foi para um futuro espetacularmente fabuloso, materialista, em que subjaz na crônica sobre os dois grupos humanos remanescentes, os asquerosos Morlocks e os belos e frágeis Eloi, uma estrutura de classes ao estilo marxista levada às últimas consequências. Relato simples e cristalino, de alguém preocupado com o plano das idéias e que se serve das palavras como grãos de arroz num prato suntuoso. Um clássico, que funda a ficção científica.

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