São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Mais uma goleada

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A FRESNO

A vinda para Fresno foi um longo cortejo pelas rodovias da Califórnia, desde Los Gatos, base da seleção brasileira nos Estados Unidos.
Na frente, pioneiro desbravador, seguia o ônibus, conduzido ironicamente por um salvadorenho, nossos inimigos de hoje. Em reverente fila indiana, vínhamos todos nós, um desfile de carros de passeio, "vans", micro-ônibus. Pelas janelas, câmeras fotográficas, de TV, olhos ávidos por nada, a não ser a paisagem estranhamente linda, iluminada por um sol rasante no horizonte, morrendo.
Montanhas, vales, represas, tudo em claro-escuro, num tom sépia, fotos lunares antigas, poderia se dizer.
Agora, no estádio de Fresno, o sol explode com violência e as cores vivas se irradiam em ondas de intenso calor. Desde o dourado cintilante dos cabelos das jovens americanas que espiam curiosas esse espetáculo novo e incomprensível, até o verde do gramado, pontilhado e amarelos e azuis, brasileiros e salvadorenhos.
Bola rolando, e está na cara que o Brasil vai pespegar mais uma goleada nesses cucarachas. Isso é bom, isso é mau. Mas não é hora de discutir essas coisas, pois, olha lá o Romário já metendo o primeiro gol, mal dada a saída. Ah, não valeu. Mas, agora, valeu, né? Aos 5min, Bebeto recebe na intermediária inimiga, gira e manda a bola na medida para Romário, sozinho, em velocidade. Gol, claro.
Os salvadorenhos revelam a clara intenção de evitar uma tragédia, como seus vizinhos não tão amistosos, os hondurenhos, que levaram de oito. Fecham-se lá atrás com extremo cuidado, mas a bola parece não manter com eles um contato mais íntimo. Apesar disso, nosso time prefere tocar a bola lentamente entre sua linha de defesa e a intermediária adversária. É bola de Dunga para Mauro Silva, deste para Zinho, que atrasa para Ricardo Gomes, que passa para Jorginho, e assim vai. Aliás, esta é a verdadeira estratégia de Parreira na Copa. Tanto que, depois dos 8 a 2 sobre Honduras, ele não escondeu seu descontentamento com o ritmo de toque de bola. "Tocamos até rápido demais", dizia o técnico lá no campinho de treinamento de Santa Clara.
A tese de Parreira é que tocando a bola exaustivamente, sob esse sol escaldante, vamos fazer os gringos se desgastarem. Aí, então, se abrirão os espaços por onde caminharemos impávidos em busca do tetra. É uma tese.
Na prática, aqui em Fresno, a bola rola lentamente, mas às vezes ganha velocidade, como nesta jogada de Jorginho, que penetra rapidamente na área e sofre pênalti. Bebeto vai lá e bate: 2 a 0.
Isso foi aos 15min. Até quase os 30min, o Brasil acelerou um pouco e criou algumas jogadas bonitas. Como a tabela entre Jorginho e Romário, que devolveu de calcanhar ao lateral, que invadiu a área e chutou forte para defesa do goleiro.
Romário, aliás, vinha bem, até que meteu a mão na altura da virilha e foi saindo, de fininho, para a entrada de Muller, dando início à série de substituições que se processariam no segundo tempo.
Destas, a mais auspiciosa foi a de Raí, no lugar de Mauro Silva. Raí entra com vontade, desloca-se pra cá, pra lá, e se mete no centro das duas jogadas que resultariam nos gols brasileiros: o primeiro, de Zinho; o segundo, dele mesmo, Raí, de cabeça.
Resultado: 4 a 0. E daí. Daí que Leonardo vai se firmando na lateral-esquerda. E Raí vai se mantendo, embora Mazinho seja o balanço de que carece nosso meio-campo.

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