São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
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Esquadrão da Morte

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em São Paulo, no Rio, a violência só faz aumentar.
Na Globo, que por razões diversas não esquece o Rio de Janeiro, saíram dizendo que "outro corpo apareceu hoje (ontem): é de um homem branco, esquartejado para dificultar a identificação". Apesar de estar "distante da chacina" do dia anterior, a polícia carioca acredita que é parte do mesmo conflito entre traficantes.
No SBT, no Aqui Agora, que prioriza São Paulo, a mesma coisa. Estão dizendo que "a escalada da violência não pára" e que "a população está assustada com as chacinas em São Paulo". A cobertura já está com Sérgio Frias, uma das estrelas do programa –aquele que cobriu, por exemplo, o suicídio em "tempo real".
Pelas contas da Globo, no Jornal Nacional, "uma pessoa é assassinada a cada 78 minutos", em São Paulo.
Pelas contas do SBT, foram "oito chacinas em seis dias", em São Paulo. Pelas contas do Jornal Bandeirantes, um pouco menos, "sete chacinas em seis dias". Uma ou outra ou outra emissora estando certa, é chacina, é morte demais para ser uma simples coincidência, como queria o secretário estadual de Segurança, dias atrás.
Por lembrar de secretário, de Estado, o TJ Brasil e o Jornal da Record abriram espaço ontem para o "luto" nas diversas favelas cariocas que eram dominadas por Orlando Jogador, morto numa das chacinas do início da semana, no Rio de Janeiro. "As bandeiras ficaram a meio pau", registraram, em coro, os noticiários.
"É que o crime organizado supria a ausência do Estado", tentou explicar Boris Casoy, âncora do TJ. Uma explicação correta, na crítica ao caos do Estado, mas incompleta. Na Record, acrescentaram que Orlando foi "um dos maiores atacadistas de cocaína da cidade". Foi, daí o luto, empregador. Um agente econômico.
Enquanto a polícia paulista seguia culpando justiceiros independentes (sem nada a ver com a própria polícia) e a polícia carioca seguia culpando traficantes idem (sem nada a ver com a polícia), ecoava uma pergunta, feita por Francisco Pinheiro, o âncora do Jornal Bandeirantes: "Você se lembra do Esquadrão da Morte?"
Matança
Nem chacina, nem massacre. A expressão encontrada pela CNN para falar da violência crescente em São Paulo e no Rio de Janeiro é "matança".

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