São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
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Chamem o segurança!

ALBERTO HELENA JR.

O time é esse. E só não será esse caso haja alguma contusão ou mal-estar de algum titular. As dúvidas foram dirimidas e jogam Márcio Santos, na quarta-zaga, Leonardo, na lateral-esquerda, e Raí é o camisa 10. Sentados na pontinha do banco estarão Mazinho e Muller, os reservas de ouro, prestes a entrar no time à primeira solicitação. Mazinho para o meio-campo, em qualquer das quatro posições. Muller, para o ataque, seja substituindo ou Bebeto ou Romário, seja reformulando o esquema, com três atacantes.
Isso, claro, contra a Rússia, no jogo de estréia. Depois, só Deus pode prever o que acontecerá com o time. Branco segue sendo o preferido de Parreira. Acontece que está tão mal fisicamente que desconfio ter dedo do Moraci Sant'Anna na escalação de Leonardo. Desconfio, não. Alguém me soprou isso no treino de ontem cedo, em Santa Clara, com tanta convicção que sou capaz de encampar. Mesmo porque é essa mesmo a função do preparador físico. Se consultado, deve dizer a verdade. E a verdade é que Branco está a quilômetros de Leonardo em termos de vigor físico, velocidade e resistência. Basta ver os dois se movimentando em campo. Mas, insisto, Branco é o preferido. Por uma questão de experiência e por segurança, o que, aliás, no fundo, dá no mesmo.
Sim, esta é a seleção armada sob o signo da segurança. E segurança é o traço nítido da nossa estratégia na Copa. Senão vejamos:
1) Parreira é claramente um treinador ortodoxo, que jamais arrisca um vôo de imaginação. Para ele, beque é beque, lateral é lateral, meia é meia. Tentou fazer da seleção um time mais ofensivo, com dois meias (Luís Henrique e Raí) e apenas um cabeça-de-área (Mauro Silva). O que deu certo há uns três anos deu errado já na preparação para as eliminatórias. Resultado: meteu-se Dunga por ali, por segurança. Branco continua na expectativa, quando já teria sido descartado por qualquer outro treinador, exatamente porque Parreira o considera um lateral mais defensivo.
2) A primeira alternativa para o lugar de Raí, um armador-atacante, é Mazinho, um armador-defensivo. E ponto. Na verdade, se fosse por Zagalo, Mazinho já estaria com a camisa 10 há muito tempo. Aliás, me disse isso claramente antes do jogo contra El Salvador em Fresno: "Com Mazinho, o meio-cmpo fica mais consistente". Traduzindo: mais firme na marcação e menos fluido no toque de bola. Quer dizer: mais seguro.
3) Na última coletiva, Parreira disse sem mais nem menos que, com um empate e duas vitórias, podíamos classificar-nos em primeiro no grupo. E acrescentou: "Até com dois empates e uma vitória estaremos classificados. E o que importa, nesta fase, é a classificação."
Dessa forma, preparemos nossos corações, que, pela lógica da estratégia da seleção, sofreremos 90 minutos a angústia de um resultado apertado. Claro que a dupla de ataque -Bebeto e Romário-, de repente, pode desembestar e os gols fluírem como água de uma bica. Há também o calor infernal e, muito possivelmente a fragilidade de uma seleção russa desfalcada de seis titulares e, pelo visto, mal treinada.
Mas tudo isso será circunstancial.
No duro, no duro, a palavra de ordem na seleção de Parreira que estréia nesta Copa contra a Rússia, é mais um apelo: Chamem o segurança!

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