São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 1994
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Futebol quer atacar; NBA quer retranca

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Meus amigos, meus inimigos, se o seu sangue corre um pouquinho mais rápido nas veias, sua cidade é Chicago. Onde a excitação encontra o estilo. Essa cidade não quer nada, só o céu, meu bem.
Escola de crimes e corrupção fazem você, brasileiro, se sentir um pouco em casa. Mas há o jazz enraizado aqui. Orquestras e programas musicais de primeira. E, óbvio, a porrada da arquitetura.
Não deixa de ser uma pequena sacanagenzinha do destino o fato de a final do campeonato americano profissional de basquete, a NBA, ocorrer no mesmo dia da abertura da Copa em Illinois.
Afinal, este lugar é o lugar em que Michael Jordan virou Orfeu Negro e, durante muitos anos, falar em final da NBA era falar nos Bulls. Além disso, a gente daqui é apaixonada por esporte.
Talvez a magnética local não esteja lamentando muito a sua sorte. Afinal, a Copa do Mundo versão EUA deste estranho esporte chamado soccer pode recuperar a atitude ofensiva no futebol.
Enquanto isso, a série de jogos finais entre o New York Knicks e o Houston Rockets pode ser a mais retranqueira da história da NBA. Os times são defensivos e fazem poucos pontos para o esporte.
Ironia das ironias. Durante anos, os pensadores do futebol, preocupados com o fim dos gols, quebraram a cabeça para tentar levar para o jogo o espetáculo e a força ofensiva da NBA americana.
E justamente quando o torneio maior do futebol chega à terra do Larry Bird e Magic Johnson, procurando melhorar seu espetáculo, a NBA dá uma dessas.
Desse jeito, Zagalo e Parreira acabarão como técnicos do Los Angeles Lakers. Nas desculpas para poucos escores, o técnico Rudy Tomjanovich, dos Rockets, não difere muito deles.
"Você tem grandes corpos trabalhando duro. Eu conheço muita gente que não gosta disso, mas é um trabalho duro e não é fácil fazê-lo. É por isso que os dois times estão aqui", diz ele.
Frederic C. Klein, no seu "Wall Street Journal", ironiza: "Em 2044, o netinho de Shaquille O'Neal chega e pergunta para ele: `Vovô é verdade que no basquete um time só faz 50 pontos?'
Aqui, como aí, a gente quer bola pra frente. Mas, apesar da retranqueira, será difícil o basquete perder terreno neste país. O prestígio nacional de uma estrela como Shaq é um dos indicadores.
Nas duas vezes que cruzei os EUA até agora, uma pela United, outra pela American Airlines, o filme mostrado era "Blue Chips", com o gigante Shaq, flagrado em estilo de comercial do tênis Nike.
O Soldiers Field, estádio da abertura da Copa, talvez seja um dos mais bem localizados do mundo. Fica à beira do lago Michigan (é como se o Maracanã ficasse no lugar do MAM, no aterro do Rio).
Também deve ser um dos mais antigos. Inaugurado em 1924, ostenta uma velha dignidade (que você também encontra, mais moça, no Pacaembu). O nome é homenagem aos mortos da Primeira Guerra.
O estádio dos Ursos (futebol americano) é muito lembrado por uma célebre e longa decisão de título de boxe entre os peso-pesados Gene Tunney (vencedor) e Jack Dempsey, em 1927.
Em Chicago, como na Califórnia, também faz um calor de rachar SÉTIMAS IGREJAS DE CRISTO (a dessa cidade é lindíssima, com sua arquitetura arrojada). Não sei como os times europeus aguentarão.
O poeta Lew Welch, que foi chofer de Jack Kerouac em San Francisco, viveu aqui. Em seu "Poema de Chicago" ele diz que esse lugar deixa você entender por que a Bíblia é o caminho que ela é.
Ele escreve: "Gente orgulhosa não pode viver aqui". Religiosidade por religiosidade a cidade me lembra o "spiritual" em moda que a Barbara Hendricks cantou em SP: "Oh, What a Beutiful City".

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