São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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A aritmética dos juros na fase pós-real

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Instituições operam com a concreta possibilidade de o Banco Central baixar uma correção extra da URV (Unidade Real de Valor) no dia 1º de julho.
Atropelaria, desta forma, o texto básico da legislação sobre o indexador, segundo a qual a URV de um mês é contada de dia 30 a dia 30.
Mas teria um bom argumento para justificar essa possível quebra de contrato: o IPC/Fipe fechado de junho deve ficar muito próximo de 49%, enquanto que a média aritmética da URV mal encosta em 46%.
Se o BC respeitar este mês a média aritmética dos três índices de inflação a partir dos quais é calculada a URV, a atual projeção de alta do indexador, 45,5%, já pode estar perto da realidade.
Os bancos trabalham com um IPCA-E de 45,20%, um IGP-M ligeiramente abaixo de 45% e uma terceira quadrissemana do IPC/Fipe de 47,5%. A média rondaria 45,9%.
Há bancos suspeitando que o BC não seguirá a média aritmética. O motivo que justificaria essa generosidade é o mesmo que os leva a desconfiar que haverá uma correção extra da URV no dia 1º de julho.
Ou seja, a necessidade de lançamento do real em plataforma mais elevada e realista, para que o resíduo da inflação passada não seja muito danoso e para que o congelamento cambial possa durar mais tempo.
A suspeita é de que a variação adicional da URV seria próxima de 1,7%, para que o indexador encostasse na expectativa de IPC/Fipe fechado de junho, de 49%.
Essa suspeita traz sérias implicações. A primeira: uma aplicação de 30 dias feita no dia 1º de julho, com resgate obrigatório no dia 4 –já que o 1º de julho será um feriado bancário branco–, referenciada na melhor taxa de juros hoje existente, a do over-selic, não pagará juro real de 2,73%, mas de apenas 0,35%.
A segunda: a variação não programada reabilitaria um papel hoje inteiramente desacreditado, o CDB pós-indexado à URV, cujos juros reais não estão mais compensando a extinção do indexador.
Com a correção extra, um CDB-URV negociado na sexta-feira, com juro real de 75% ao ano, pagará 26,32% contra 24,51% do CDB-TR. Trata-se de aposta arriscada, pois se ela não vier, seu ganho declina para 24,20%.
Para uma parte do mercado, vale a pena correr o risco: se é para romper contrato, por que não uma variação suplementar de 10% ou 15%?
O BC pode não chegar a tanto, mas teria uma boa desculpa para jogar a cotação da URV para CR$ 3.000,00 no dia 1º de julho, a de facilitar as contas para o consumidor.
Para uma URV de 46,50% em junho, a sua cotação chegará perto dos CR$ 2.800,00 no dia 30. A correção extra seria então de 7,14%.

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