São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Cultura é arma para motivação

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os dias, às 7h30, as equipes de marketing, vendas e telemarketing da Caraigá Veículos, concessionária Volkswagen e Audi de São Paulo, abrem o expediente cantando canções sacras, de Elvis Presley, Beatles ou Milton Nascimento.
Depois de cerca de 20 minutos de cantoria, começam uma reunião para fixar as metas do dia e cobrar os resultados da jornada anterior.
Esse é o ensaio rotineiro do Coral Caraigá, formado por 40 funcionários há três anos.
Periodicamente, o grupo se apresenta em orfanatos e shopping centers. No ano passado, gravou um disco com músicas de Natal.
Nos últimos anos, as empresas descobriram que campanhas internas de motivação de seus funcionários não são suficientes para criar um clima favorável e aumentar a produtividade.
Uma das vias para alcançar essa meta foi encontrada no estímulo, apoio e até patrocínio a atividades culturais dos funcionários.
"Essas atitudes fomentam a integração das pessoas e ajudam a desenvolver o espírito de equipe e de colaboração interpessoal", afirma Isabel Borges, diretora geral da Mercuri International do Brasil.
Na prática, elas possibilitam maior contato entre chefias e subordinados, entre profissionais de diversas áreas e níveis hierárquicos, entre pessoas de diferentes formações e experiências.
"O coral foi uma alternativa para acabarmos com a rivalidade entre os profissionais", atesta Naul Ozi, 42, diretor de vendas e marketing da Caraigá.
Alguns grupos de funcionários já partiram para iniciativas culturais mais elaboradas, que requerem aprendizado mais profundo das técnicas, ensaios frequentes e recursos para as produções.
É o caso do teatro, escolha de profissionais da Siemens do Brasil e do Banco Safra, em São Paulo (leia texto abaixo).
Caymmi e Ziraldo
Há ainda outras alternativas. A IBM do Brasil, por exemplo, investe anualmente US$ 120 mil com cachês de atores, músicos, cartunistas e escritores.
Eles são convidados para apresentar seus trabalhos, na forma de shows ou palestras, e para debater com os funcionários da empresa depois do expediente.
Durante esse ano, a dupla Sá e Guarabira lotou o refeitório da empresa, em São Paulo. No Rio, Danilo Caymmi cantou, falou de seus arranjos e contou histórias sobre seu pai, o compositor Dorival.
No ano passado, a empresa convidou personalidades como o cartunista Ziraldo, o escritor Fernando Sabino, o compositor Paulinho da Viola e Fernanda Montenegro.
"Nosso objetivo é a interação das pessoas dentro do ambiente de trabalho", explica Silvana Schindler, 40, gerente de soluções e recursos humanos da IBM.
Livros e museus
Outra iniciativa da IBM é o fomento à leitura. Desde o final de 93, foram organizadas três feiras de livros dentro da empresa, com exemplares dos mais diferentes temas vendidos a preços menores.
Na Eletropaulo, cursos destinados a funcionários de diferentes graduações também estimulam a leitura e outras práticas culturais.
A facilidade para o funcionário está no fato da estatal paulista manter uma biblioteca e realizar feiras de livros em suas unidades.
A conclusão do curso ocorre depois de uma visita ao Museu de Arte de São Paulo e ao Liceu de Artes e Ofícios, onde ouvem sobre história e tendências da arte.
"Todos passaram a se expressar de forma mais clara, o que facilitou a tomada de decisões", diz Terezinha Lorenzon, 36, gerente de treinamento da Eletropaulo.

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