São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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OS BRASILEIROS NO LIVRO

"(...) Se fosse do meu agrado uma visita folclórica ao Iate Clube ou ao Jóquei, um empresário playboy chamado Carvalho teria prazer em proporcioná-la. Seu secretário me mandaria os endereços e os números dos telefones. Realmente não havia mais ninguém que pudesse recomendar. Os outros brasileiros que conhecia no Rio, ou eram muito enfadonhos, concentrados em acumular grandes somas em secretas contas numeradas, ou tinham todas as contas suíças de que precisavam e eram complicados e evasivos demais. Não se podia confiar neles.
Evasivo no caso deles, Ben continuou, significa ser dado a mentir compulsivamente –ainda que não especialmente quando se trata de sentimentos. Se lhe demonstram afeição, não há que se duvidar deles. É mais uma espécie de sistema. Mentem sobre os aspectos práticos da existência. Por exemplo: X manda um telex dizendo que está chegando a Paris para vê-lo a semana que vem, em parte por um desejo incontrolável de estar com você e em parte porque precisa se afastar da rotina diária do trabalho, que lhe está minando a saúde. Você espera a chegada de X –possivelmente organiza um pequeno jantar para recebê-lo. Depois de uma série de telefonemas, você vem a saber, se é que teve sorte suficiente para chegar a falar com ele, que dois dias antes do telex de X chegar a Paris ele tinha de fato voltado de uma temporada em Nova York e não poderia se afastar do Brasil antes de seis meses, pela excelente razão de que o sócio dele sofrera um acidente de carro e estava sendo reconstituído, osso a osso, em Hamburgo –o que obriga X a ficar perto de casa e cuidar da loja."

Trecho de "O Homem que se Atrasava"

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