São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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O futuro não está no mapa

Tecnologia altera confecção e uso das cartas

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mapas do futuro são muito mais que simples mapas. Atendem pelo nome de SIGs (Sistemas de Informação Geográfica). Além de apresentar o traçado de uma cidade na tela, eles podem dizer o que há em cada prédio (por exemplo, pizzaria) e trazer dados a respeito (por exemplo, cardápios atualizados).
}Um sistema desses é fundamental para a tomada de decisões em uma cidade como São Paulo, com cerca de 2,4 milhões de unidades imobiliárias, diz o geógrafo Flávio Sammarco Rosa, da USP.
Não só para dizer onde fica a pizzaria mais barata, mas principalmente para auxiliar a cobrança de impostos e a manutenção das redes de luz, água e esgoto.
Rosa vai apresentar no 5º Congresso Brasileiro de Geógrafos, em Curitiba (PR) no mês que vem, um SIG que está elaborando para o campus da USP.
No atual estágio, já se podem selecionar todos os prédios com um determinado serviço (xerox, livraria ou lanchonete) ou criar um mapa representando o orçamento das unidades.
Depois, é possível relacionar o orçamento ao número de alunos, teses, ou bolsas de estudo (indicados através de uma escala).
Mas SIGs também podem ser usados para descobrir o melhor local de uma cidade para construir um shopping center.
E também para saber os registros que devem ser fechados quando se quer interromper o abastecimento d'água e consertar a rede.
Ou ainda para determinar a área que se presta a um determinado tipo de cultura, o melhor traçado para uma rodovia ou linha de força.
Para cada aplicação, existe um SIG adequado. Desenvolvê-lo cabe não só a geógrafos, mas, principalmente, a especialistas em tecnologia.
}Foi durante a última década que tecnologias de geoprocessamento ganharam maior impulso, diz Marcos Rodrigues, da Escola Politécnica da USP.
Geoprocessamento é a área que trata da tecnologia usada para fazer mapas e estudar o espaço, inclusive elaborar os SIGs.
Seu impulso ocorreu porque computadores se tornaram capazes de trabalhar com imagens mais rápido, e surgiram os chamados mapas digitais (exibidos na tela, por meio de coordenadas).
Mas os computadores não alteraram substancialmente os passos necessários à confecção dos mapas, apenas aceleraram o processo.
}É uma área de evolução mais tecnológica que científica, diz Rodrigues.
Para cada especificação de mapa, há um método apropriado. E há uma grande variedade.
Uma carta convencional, por exemplo, vem de fotos feitas em aviões ou, mais recentemente, em satélites (poucos satélites, como o francês Spot, chegam à resolução necessária para escalas grandes).
Mas toda foto traz distorções. Locais mais altos ou mais distantes da câmera saem maiores. Para corrigi-las, a tecnologia tradicional não dispensa o olho humano.
Duas fotos do mesmo local são posicionadas adequadamente diante de cada olho. Os dois olhos criam um efeito de visão tridimensional (visão estereoscópica).
A partir desse efeito e de dados coletados no terreno (como a altitude de marcos conhecidos) é possível restituir no papel os contornos originais e traçar o mapa.
O processo era feito manualmente em aparelhos chamados }restituidores, que levam em conta também a curvatura da Terra.
Um primeiro avanço foi o surgimento de restituidores digitais, que tornam possível a um operador traçar o mapa na tela do computador, apenas olhando as fotos.
}Mas já existem programas capazes de gerar mapas de relevo sem o auxílio do homem, afirma Rodrigues.
A partir de imagens, eles restituem o relevo simulando a visão estereoscópica e localizando marcos de altitude e coordenadas conhecidas.
O olho humano, porém, ainda é necessário para identificar e dar nome a rios, estradas, florestas, cidades e assim por diante.
Outra fonte de imagens para a produção de mapas são os satélites de sensoriamento remoto, que fotografam a Terra do espaço.
As fotos que produzem precisam ser interpretadas para gerar os chamados mapas temáticos (como os de vegetação e urbanização). Programas de computador também facilitam essa interpretação.
Mas fazer mapas ou representações espaciais é apenas um passo para chegar ao SIG. Também é preciso coletar e estruturar dados relativos ao mapa e montar um sistema de atualização constante.
E sempre é bom lembrar, como diz o geógrafo Rosa, que }não existe um software capaz de resolver todos os problemas e atender a todas as necessidades.

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