São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Estudo mostra aumento de mortes violentas

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Cerca de 850 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas na década de 80 no Brasil. Para cada uma dessas mortes, cerca de 300 outras pessoas sofreram algum tipo de trauma físico ou psíquico. Somadas, as vítimas da violência entre os anos de 80 e 89 chegam a 255 milhões.
Os números foram divulgados pela antropóloga e sanitarista Maria Cecília de Souza Minayo e pela epidemiologista Edimilsa Ramos de Souza. As duas pertencem à Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.
A pesquisa foi apresentada no 4º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, que termina hoje em Olinda (PE). Os números tomaram por base levantamentos oficiais do Ministério da Saúde.
As mortes violentas –ou por causas externas– representavam 2% das mortes no país em 1930. Em 1980, somaram 10,5%. E em 89 saltaram para 15,3%. "Foi um aumento de 50% em uma década", diz Cecília Minayo.
Entre estas mortes violentas, os acidentes de trânsito são a primeira causa no Brasil, com 29,3%. São os homicídios, no entanto, que vêm crescendo mais rapidamente, passando de 20% em 80 para 24,1% em 89.
"A tendência nos anos 90 é um aumento maior das mortes por homicídio", diz Cecília. No Rio de Janeiro e em São Paulo, os homicídios já matam mais que os acidentes de trânsito.
Outra tendência é a diminuição da faixa etária das vítimas e o aumento de morte violenta entre as mulheres.
Armas de fogo
Motivos pessoais e brigas entre bêbados e vizinhos estão sendo substituídos pelo crime organizado. Segundo Cecília Minayo, "enquanto o país exclue dos seus projetos as vítimas da violência, o crime organizado está oferecendo emprego a elas".
"No Rio de Janeiro, o crime organizado está pagando aos adolescentes salários maiores do que recebem seus pais", diz Cecília.
Como antropóloga, ela prefere não fazer relação direta entre a miséria e a violência. "Mas é certo que o crescimento da violência física é consequência da violência estrutural", diz.

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