São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Pizza à moda da Casa

Ao eximir-se de cassar, ontem, o mandato do senador Ronaldo Aragão (PMDB-RO), sobre quem pesam acusações gravíssimas levantadas pela CPI do Orçamento, o Senado da República não só frustrou o desejo de justiça da opinião pública nacional como perdeu uma oportunidade única de mostrar a disposição de sanear moralmente aquela Casa.
A CPI, como se recorda, pediu a cassação do senador com base em fortes suspeitas de que recebeu dinheiro de uma empreiteira para alterar em seu favor o Orçamento. Além disso, Aragão é acusado de desviar verbas de subvenção através de uma fundação beneficente. Não conseguiu explicar, tampouco, a origem de cerca de US$ 400 mil depositados em suas contas nos últimos cinco anos, quantia acima de seus rendimentos comprovados.
O senador, ao não dar informações convincentes sobre nenhuma dessas questões, certamente quebrou o decoro parlamentar, falta política pela qual foi julgado por seus pares. Sua não-cassação foi um ato indigno de um Senado comprometido com a democracia e a transparência no trato da coisa pública. Do ponto de vista penal, o caso agora fica nas mãos da Justiça.
À indignidade dos parlamentares coniventes com a corrupção (louve-se, de passagem, o voto de 19 senadores a favor da cassação), a opinião pública reage com indignação e tristeza, ao ver que se confirma em grande medida o temor dos que acreditavam que a CPI do Orçamento terminaria em pizza.

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