São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Cobacabana foi erguida sobre ruínas indígenas

CARLOS KAUFFMANN
DO ENVIADO ESPECIAL À BOLÍVIA

A fronteira Peru-Bolívia faz uma curva acentuada no lago Titicaca para deixar do lado boliviano a península de Copacabana, onde está a cidadela de mesmo nome e as ilhas do Sol e da Lua.
Copacabana, construída sobre restos de aldeias indígenas –chiripas e incas– há muito tempo é sagrada. Fica a 180 km de La Paz.
Atualmente, a construção mais famosa de Copacabana é a igreja, cuja desproporcionalidade em relação à cidade (5.000 habitantes) é mais gritante que em Aparecida do Norte (SP), por exemplo.
O templo guarda a imagem da Virgem Morena de Copacabana, obra do artesão mestiço Tito Yupanqui (1580). É venerada anualmente por milhares de crentes.
A igreja tem dois altares, um de costas para o outro. Esta curiosidade foi causada por um descuido técnico na construção original, que desprezou a vista para o lago.
A base sobre a qual repousa a imagem é giratória. Periodicamente, a Virgem muda de um altar para o outro porque se acredita que a imagem deve "olhar" para o lago pelo menos oito horas por dia.
Perto da cidade há duas ruínas pré-colombianas importantes, Horca del Inca ("forca do inca") e o templo de Intinkala.
A primeira não é nem forca, nem foi construída por incas. Trata-se de um dos mais famosos observatórios chiripas, anterior a 1000 a.C. e 104 metros acima do atual espelho d'água do Titicaca.
Sobre duas pedras verticais de 4,6 metros foram postos travessões de pedra, formando uma plataforma que imaginou-se ser inicialmente um patíbulo para execuções.
A sombra de uma agulha de pedra, a 39 metros da construção, incidia sobre o espaço formado pelo monumento durante os equinócios (instante em que se registram dias e noites de igual duração).
Pedras talhadas onde os espanhóis acreditaram ter existido um tribunal ficam a 200 metros da cidade. Intinkala, como é chamado o local, possivelmente foi o local de reunião dos "achachilas", espíritos tutelares das comunidades.
Canais escavados nas rochas serviriam para cerimônias em que os homens, de bruços, bebiam em homenagem a Pachamama.
As construções incaicas nas ilhas do Sol e da Lua foram local de várias cerimônias. Na ilha do Sol, cuja vegetação exuberante destoa da paisagem semi-árida do altiplano, há uma fonte sagrada.
Uma escada que alcança cerca de 50 metros leva à nascente. Perto de lá fica outra construção, o palácio de Pilkokaina.
Na ilha da Lua, o imperador inca Yupanqui mandou construir um edifício destinado a albergar virgens que eram sacrificadas em homenagem ao sol e à lua.

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