São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994
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No processo de introdução do real, a reta final mostra-se mais acidentada do que o esperado. A aceleração dos preços neste final de mês e os tropeços na conversão das mensalidades e aluguéis trouxeram "ruídos" a uma transição concebida para ser a mais suave possível.
Mesmo assim, a inflação deve cair significativamente nos próximos meses. Mantido o equilíbrio orçamentário, o fim da correção do câmbio, dos salários e tarifas públicas, associado à manutenção de altas taxas de juros reais tornam praticamente certa essa queda.
O estudo "Impacto do Real no Varejo", objeto de reportagem de anteontem desta Folha, indica que na expectativa de altos executivos de supermercados e magazines a inflação média entre julho e dezembro será de 4,6% ao mês.
Uma queda da inflação para algo próximo disso tem efeito positivo sobre a distribuição de renda. Pois, hoje, as altas taxas de inflação beneficiam indiretamente o governo e os setores econômicos mais fortes em detrimento dos assalariados de baixa renda, principalmente.
Uma queda na inflação, portanto, reduzirá significativamente as distorções por ela ocasionadas e implicará, de imediato, um ganho do poder de compra dos setores de mais baixa renda. Esse efeito positivo deve amenizar, pelo menos durante os primeiros meses, uma eventual deterioração dos salários, caso persista uma baixa inflação em reais.
Para a classe média esse efeito da estabilização será menor, pois as aplicações financeiras permitem a ela, já hoje, evitar a desvalorização de boa parte de seus recursos.
Há ainda um fator adicional em beneficício dos consumidores. Se os preços variarem menos o consumidor poderá compará-los melhor e, desse modo, evitar produtos com valores disparatados, difíceis de distinguir quando a inflação corre a mais de 45% ao mês.
Ainda que a queda da inflação contribua inicialmente para amenizar as distorções, os problemas sociais do Brasil continuam, evidentemente, imensos. A estabilidade econômica, portanto, não basta, mas sem dúvida é um passo fundamental. Afinal, as estratégias combate à miséria só têm a ganhar em consistência e eficácia se implementadas dentro de um horizonte estável.

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