São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994
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Condenação à morte

SANDRA CAVALCANTI
NÃO

Deve-se permitir o aborto em condições além das previstas no Código Penal Brasileiro?

Minha resposta é não! A atual legislação brasileira sobre aborto já é, do meu ponto de vista, suficientemente permissiva.
Se se tratasse de alterar essa legislação, para criar maiores obstáculos à nefanda prática do aborto, ficaríamos a favor. Mas a proposta é bem clara: trata-se de permitir o abortamento em circunstâncias outras, além daquelas que, hoje em dia, estão protegidas pela nossa legislação.
Acho que, hoje em dia, já se abusa do chamado aborto terapêutico. A pretexto de que o feto apresenta características de malformação congênita, muito aborto anda sendo praticado por aí, com a conivência de profissionais sem escrúpulos.
Penso que a fiscalização dos conselhos de medicina sobre esses casos deveria ser muito mais severa.
Interromper o processo de gestação, para mim, é uma violência intolerável. É uma condenação à morte, feita por um tribunal nem sempre idôneo, em que não há direito de defesa.
A melhor forma de combater a prática do aborto é a de incutir nos jovens, desde cedo, o sentido da responsabilidade infinita que significa "gerar um ser humano".
Ensinar que a prática desordenada do sexo irresponsável acaba provocando esse holocausto de inocentes.
O aborto, quase sempre, resulta de atos impensados e de atitudes egoístas.
Portanto, a solução não está em alargar o campo de circunstâncias que possam justificar esse homicídio. O certo, ao nosso ver, é exatamente o contrário.
À medida que o aborto continua a ser encarado como crime, praticado contra um ser humano indefeso, de forma sempre brutal; e, à medida que, assim qualificado, ele importe em punições para os criminosos, acho que a sua prática poderá ser enfrentada e reduzida.
A importância da geração de um ser humano deve ser a base de toda uma visão sobre a criança.
Se a criança, por razões egoístas e circunstancias, já é descartável desde o ventre materno, por que a sociedade, com tanta hipocrisia, pretende ficar escandalizada com os genocídios de crianças de rua?
Não se pode sair por aí matando crianças inocentes! Um dia, essa legislação facilitada poderá ser tão ampliada, mas tão ampliada, que vai permitir a volta às práticas bárbaras dos índios e dos povos primitivos.

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