São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Políticos evitavam ombros incômodos

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Fotos muito antigas mostram Juscelino Kubitschek de Oliveira efusivamente carregado "nos ombros do povo".
Ilusão de ótica. Ao chegar para os comícios, na campanha ao governo de Minas, em 1950, era sempre o mesmo grupo de seis assessores que se revesavam para transportá-lo até o palanque.
Nada mais que um jeito matreiro de demonstrar prestígio. A convenção do PSD teve um resultado apertado e havia a suspeita de que seu adversário, Bias Fortes, trabalhava para esvaziar sua campanha.
Foi eleito. Corre até hoje a versão de que, ao disputar a Presidência, em 1955, ele foi carregado por um único assessor que não tinha outra tarefa.
Polidoro, o "carregador do Juscelino" -nenhuma testemunha sabe ao certo se era este mesmo o seu nome - correu o Brasil com poltrona reservada no DC-3 do candidato.
Tão logo os motores do avião paravam, ele se precipitava na pista, misturava-se à multidão e em segundos já tinha JK na garupa.
JK foi um homem de quase 1m90. Temia perder o equilíbrio se fosse parar nos ombros de algum admirador ao mesmo tempo pequeno e franzino.
Na campanha presidencial anterior, a de 1950, um fato curioso envolveu o então candidato do PSD, Christiano Machado, que seria derrotado por Getulio Vargas.
Carmela Dutra, "dona Santinha", mulher do presidente da República, morreu e os políticos acorreram para sua missa de sétimo dia, na Candelária.
Para compensar o pouco prestígio do candidato, um de seus cabos eleitorais decidiu carregá-lo no ombro à saída da igreja. Machado ficou furioso.
"Me larga, idiota!", exclamava, indignado.
Getulio Vargas gostava de ser carregado. O problema era chegar perto dele. Os seguranças cochilaram no 1º de Maio de 1951, pouco depois de sua entrada no estádio de São Januário, no Rio.
Perderam o homem. Foi difícil resgatá-lo do ombro de seus fanatizados admiradores.
Certos candidatos tinham horror de acabarem no ombro de algum eleitor. Era o caso de Tancredo Neves e Magalhães Pinto, ambos de Minas, ou do marechal Henrique Teixeira Lott, que perdeu para Jânio Quadros a eleição de 1960.

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