São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Migrantes agora preferem o Norte

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estudos preliminares do governo indicam uma mudança significativa nos movimentos migratórios no país. Proporcionalmente, as regiões Sul e Sudeste têm recebido menos migrantes do que a região Norte.
Os levantamentos estão sendo feitos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. O trabalho baseia-se no censo populacional relativo ao período de 80 a 91, ainda não divulgado.
Nesse período, o número de pessoas que deixaram a região Sul em direção a outras regiões é maior do que o de brasileiros que abandonaram o sertão nordestino.
Saíram da área rural do Sul 1,4 milhão de pessoas, número praticamente três vezes maior do que os 500 mil sertanejos que abandonaram o campo nordestino.
A população rural nordestina diminuiu de 17,2 milhões para 16,7 milhões. A do Sul caiu de 7,1 milhões para 5,7 milhões.
Pela primeira vez nos últimos 50 anos, a região Sul apresentou baixa taxa de aumento populacional –3,1 milhões de pessoas ao ano, no período compreendido pelo censo.
Nas décadas de 60 e 70, a migração para o Sul havia atingido o seu pico: 4,7 milhões de pessoas, que, na maioria, buscavam melhores oportunidades de vida naquela região.
No Sudeste, houve um crescimento populacional de 11 milhões de pessoas entre 80 e 91. Ainda assim, a taxa foi 8% menor do que a registrada na década de 70.
Os novos números relativos ao êxodo populacional no Nordeste rompem com a tradição de migração constatada nas pesquisas das décadas anteriores.
O Ipea considera, sempre baseado nos dados do último censo, que as grandes metrópoles, como São Paulo, estão cada vez mais fechadas para os migrantes.
Essas pessoas estariam buscando novas formas de sobrevivência, ou nos seus locais de origem ou em novas frentes, como a região Norte do país.
Há um dado numérico que comprova a tendência: o Norte recebeu proporcionalmente o maior número de migrantes (3,6 milhões) de todo o país entre 80 e 91.
Há dez anos, migravam para a região menos de 2,2 milhões de pessoas por ano.
O Ipea explica o interesse do migrante pela região com dois argumentos: a busca de novas fronteiras agrícolas e a febre do garimpo. Os estados que mais crescem são Rondônia e Pará.
Já o desinteresse pelos grandes centros é explicado pela crise econômica, que restringiu o mercado de trabalho também nas regiõs mais industrializadas.
A falta de oferta de emprego e de boa qualidade de vida teria transferido o fluxo migratório para regiões menos populosas.
O Ipea prevê que até o ano 2000 haverá uma reorganização "natural" da distribuição populacional. Pela tese do órgão, os migrantes tenderão a ocupar municípios com menos de 20 mil habitantes.

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