São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Correntes migratórias preferem região Norte

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) afirma que as principais causas da queda dos movimentos migratórios no país estão ligadas a dificuldades geradas pela crise econômica e à disseminação indiscriminada de diferentes formas de controle da natalidade.
"Hoje o migrante não tem nem como deixar sua região para procurar emprego", disse à Folha o demógrafo George Martine, que estuda a questão junto ao Ipea.
Segundo Martine, o retirante percebeu ser vantagem investir em suas próprias terras. "Assim ele desfruta dos benefícios que criou", afirmou.
O Ipea também considera que a queda da fecundidade registrada de maneira generalizada nas áreas urbanas vem agora também se registrando entre as populações do campo, impedindo dessa maneira também o crescimento desenfreado da população nas áreas rurais.
Relatório ainda não divulgado pelo Ministério do Planejamento aponta uma queda da taxa anual de crescimento da população durante esta década para 1,6% ao ano. Na década passada, esse crescimento foi de 1,9% ao ano.
A partir desse dado, avalia-se que o número de migrantes –já reduzido por levas de retirantes em épocas precedentes– não vai atingir patamares registrados nas décadas passadas.
Uma comparação entre as décadas de 70 e 80 já mostra que houve um declínio significativo no êxodo rural. Entre 1970 e 1980, havia no Brasil cerca de 16 milhões de pessoas potencialmente consideradas em condições de migração.
Entre 1980 e 1990, este número caiu para 10,5 milhões de pessoas. Uma queda de 40%.
O principal fluxo migratório ocorria tradicionalmente do Nordeste em direção aos grandes centros econômicos do Sudeste. Atualmente, o vetor migratório sofreu uma mudança aguda.
O maior índice de migrantes desloca-se para a fronteira agrícola e as áreas de garimpo da região Norte.
"Não há mais sentido nas migrações. As grandes cidades estão lotadas e não oferecem mais a possibilidade de ganhar a vida como acontecia no passado", analisa Martine.
A pesquisa do Ipea prevê ainda uma drástica reorganização social das áreas rurais e urbanas nos próximos anos. A busca de investimentos em regiões pouco ocupadas deve contribuir inclusive para diluir a concentração populacional das grandes metrópoles.
Martine reconhece inclusive a possibilidade de haver uma redistribuição demográfica em direção a cidades pequenas com população inferior a 20 mil habitantes. No último censo, já foi constatada forte redução no crescimento das região metropolitana da Grande São Paulo.
"Aparece então uma nova forma de organização social diferente da urbana e da rural. São novas cidades industrializadas que poderiam passar a abrigar o contingente migratório", afirmou Martine.

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