São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Florianópolis tem mais miséria que Rio e São Paulo

REGIS MALLMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A capital de um dos Estados com melhor distribuição de renda do país tem mais miseráveis do que São Paulo e Rio.
Cerca de 30 mil pessoas (11,9% da população) vivem em situação de miséria em Florianópolis, de acordo com levantamentos feitos no ano passado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do governo federal).
Com 254 mil habitantes, os índices de pobreza de Florianópolis são maiores do que os registrados em grandes centros urbanos, como São Paulo (6,3% da população) e Rio de Janeiro (10,2% da população).
A maioria dos miseráveis (famílias que têm renda mensal que só permite a aquisição de uma cesta básica) mora em alguma das 46 favelas espalhadas pela cidade.
Uma das maiores favelas é uma espécie de cartão de visitas para quem chega à capital catarinense.
São centenas de barracos agrupados ao longo da Via Expressa, avenida de quatro pistas que liga a rodovia BR-101 ao centro da cidade.
Formada por famílias que vieram de outras regiões do Estado, a favela continua crescendo, apesar das tentativas do governo do Estado de desfavelizar a área.
Os migrantes chegam quase todos os dias. Segundo o Ipuf, eles vêm em maior número do oeste e do planalto serrano.
Alguns dizem que as prefeituras das cidades onde moravam oferecem passagens de ônibus para toda a família se transferir para a capital.
"A gente chegou há cinco meses, vindo de Coronel Freitas", diz Maria Nelci de Limos, 42.
Segundo ela, o dinheiro para a viagem foi dado pela prefeitura. "Eles pagaram tudo", afirmou.
Em Coronel Freitas (615 quilômetros de Florianópolis), o marido de Maria Nelci, João, 65, trabalhava numa pequena propriedade agrícola. Ele afirma que resolveu se mudar "por que as coisas estavam muito difíceis".
Apesar de ainda não terem conseguido emprego fixo, João e Maria não pretendem voltar para o interior. "Aqui a gente vive melhor", afirmou João de Limos.
Os filhos não estudam. "Parei na quinta-série", diz Sandra Clara, 12, a filha mais velha do casal.
Sandra Clara e os irmãos, de 9 e 5 anos, ajudam o pai a recolher papelão nas ruas do centro da cidade. A atividade rende de CR$ 2.000 a CR$ 3.000 por dia, em média.
O programa de desfavelização da Via Expressa começou há dois anos. Cerca de 1.500 pessoas já foram removidas para conjuntos da Cohab.

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