São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Regiões mostram vários tipos de pobreza do país

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Nordeste rural pode ser definido como a região em que o pobre vive em meio à pobreza, o Sudeste metropolitano pode ser a do pobre na riqueza. É nesta região que os efeitos do crescimento (e da recessão) mostram-se diretamente.
As três regiões metropolitanas do Sudeste reúnem 22% da população brasileira e absorvem 34% da renda.
Na década de 70, de crescimento acelerado, o número de pobres caiu de 2 milhões (15% da população) para 816 mil (4,5%). Nesse período, a renda metropolitana cresceu 45%.
Já na crise inflacionária dos anos 80, quando a renda caiu 27%, o número de pobres voltou a crescer, para chegar a 3,1 milhões em 1990, representando quase 10% da população.
Mas isso não significa que basta crescer e está resolvido problema da renda. Se tem menos pobres, o Sudeste metropolitano apresenta, de outro lado, as maiores disparidades de renda.
Na região de São Paulo, por exemplo, os pobres são 6% da população, mas detêm apenas 0,4% da renda metropolitana. No Rio, os pobres são 13% e ficam com 1,4% da renda. Em Belo Horizonte, 16% e 1,7%.
E se no Nordeste rural a renda dos "não-pobres" é cinco vezes superior à dos pobres, no Sudeste metropolitano essa relação é de 13,2 vezes. Os pobres tem renda per capita anual de US$ 226, contra US$ 2.991 dos "não-pobres".
Outra característica do Sudeste Metropolitano é a diversidade nas situações de pobreza. Há desde pessoas recém-chegadas do Nordeste Rural, atrasadas, não-urbanas, até operários qualificados alijados do emprego pela recessão.
Há jovens que vão à escola da favela e adultos definitivamente analfabetos. E há sobretudo os moradores das favelas expostas e dominadas pelo crime organizado.
São circunstâncias que tornam mais complexo o combate à pobreza. O crescimento econômico, abrindo empregos novos, em pouco tempo retira da pobreza grande número de pessoas.
Mas, sem contar a questão policial, permanecerão dois problemas, distintos: o das pessoas que não conseguem entrar no mercado e o da distribuição de renda no mercado. Para o primeiro problema, políticas assistenciais, para o segundo, ajuste econômico e político.
Os pobres do Nordeste urbano ficam a meio caminho das duas situações anteriores. É uma mistura de pobreza urbana e rural, mais complexa e mais difícil de lidar.
Pelas contas de Cavalcanti Albuquerque, é necessário um crescimento de 5% da renda global para que se elimine a pobreza crítica.
(CAS)

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