São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Modernização provoca diminuição do emprego

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A modernidade, conceito no qual inclui a erradicação da pobreza, tem componentes econômicos, sociais e políticos, resume o ex-ministro Reis Velloso.
Os econômicos referem-se à estabilidade sustentada e ao crescimento com geração de empregos de qualidade e distribuição de renda.
A questão do emprego é crucial. A economia moderna, aberta e internacionalizada, gera empregos bons, isto é, bem remunerados, para trabalhadores bem educados. Mas menos empregos.
A moderna tecnologia permite produzir mais com menos pessoas. É o que explica o desemprego atual nos países ricos. É daí também que vem o argumento dos que se opõem à introdução de uma economia moderna e aberta.
A idéia aí é manter a economia fechada e num estágio tecnológico inferior, que seria mais adequada a países pobres do Terceiro Mundo, porque proporcionaria mais empregos locais.
Recentemente, o candidato presidencial do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, exprimiu esse ponto de vista ao dizer que seu partido, em vez de comprar camisetas importadas a US$ 0,50, comprou nacionais a US$ 1,50, para garantir o emprego dos brasileiros.
O argumento faz sentido, mas tem outro lado. Um chefe de família pobre, com US$ 1,50, veste três filhos com as camisetas importadas. E apenas um com a nacional. Qual lado privilegiar?
Não há saída fora da modernidade, diz Velloso. O contrário seria conformar-se a uma pobreza média e de destino. Algo do tipo "quem é de Terceiro Mundo deve aí ficar"; ou quem nasceu para Fusca não pode querer um Corsa.
No mundo desenvolvido, a questão do desemprego está sendo resolvida, de um lado, pela redução da jornada de trabalho. E, de outro, pela criação de novos tipos de empregos, especialmente de novos tipos de pequena empresa e de trabalho por conta própria.
Por exemplo, atividades na área de serviços, lazer e turismo. Na Alemanha, pequenas propriedades rurais, tornadas ineficientes porque não têm escala de produção, tem sido transformadas em hotéis e campos de golfe, para atemder o pessoal das cidades que tem menor horário de trabalho.
No Brasil, nota Velloso, é possível desenvolver novos modelos de pequena empresas e de atividades por conta própria, integrados ao sistema de produção das grandes corporações.
Em poucas palavras, é possível o crescimento moderno com estratégia social, acredita o ex-ministro.
Política
Na Coréia do Sul formou-se um pacto chamado da "não-elite", que reúne as classes médias às mais pobres e alcança maioria política.
O grande problema político brasileiro dos últimos anos tem sido, de um lado, a falta de uma maioria política consistente e, de outro, por falta mesmo dessa maioria, a prevalência das elites, frequentemente retrógradas.
Assim, a erradicação da pobreza também exige, no Brasil, a formação de uma maioria política com pensamento econômico moderno e forte conteúdo social.
(CAS)

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