São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Aumento do mínimo tem efeito duvidoso

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O piauiense Claudino Paula de Sousa, 28, ganha meio salário mínimo consertando caixotes na Ceagesp. Só não dorme na rua, como seus colegas, porque a prima Maria da Paz o chamou para morar em sua casa da rua 9, Osasco.
Como só fez até a terceira série do primeiro grau, Sousa tem poucas chances de ganhar um emprego com carteira assinada. Esteve entre os primeiros a ser demitido. Será um dos últimos a ser contratado.
Sua vida nada mudaria se o mínimo fosse aumentado para US$ 115, como propõe o PT, ou para US$ 100, como querem PDT e PPR. Sem poder reivindicar o salário da lei, sua única esperança de melhora imediata são programas de emergência, como distribuição de alimentos. Ou dinheiro.
Não se trata de um exemplo para despertar comiseração. O beco sem saída em que se encontra o ex-pedreiro ilustra bem o que muitos economistas estão descobrindo com calculadoras: aumentar o salário mínimo não é a forma mais eficaz de distribuir renda.
A primeira objeção à elevação drástica, excluindo o déficit da Previdência, é o efeito negativo sobre o nível de emprego. Outra, mais sutil, nasce da confrontação custo/benefício social.
Para determinar o grau de benefício, é preciso saber quem recebe salário mínimo no Brasil. Usando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 1990, os economistas Lauro Ramos e Guilherme Reis chegaram à conclusão de que um terço dos que ganham o mínimo pertence à metade das famílias de melhor renda.
É um bom indício de que estão longe do estrato mais miserável. Os outros dois terços, mesmo na metade inferior de renda, ainda estão melhor do que a massa dos que não contam sequer com o mínimo.
Outros cálculos confirmam que esse não é o alvo ideal para a distribuição de renda: proporcionalmente, há entre eles mais jovens e menos chefes de família. (ML)

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