São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Entidades contestam campanha Tietê limpo

LUIZ CARLOS DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha publicitária do governo do Estado de São Paulo, sobre a redução de 50% da poluição do rio Tietê até o final de 94, está sob a mira das entidades empresariais e ambientalistas.
Ao custo de US$ 3,7 milhões (10% do valor estimado para despoluir o rio Pinheiros), a campanha está em fase inicial e deverá ganhar novo fôlego depois da Copa (leia texto ao lado).
Segundo o coordenador-adjunto do Projeto Tietê, Lineu Alonso, 43, a atual carga de esgotos no Alto Tietê, trecho que corta a região metropolitana, é de 1.100 toneladas por dia, sendo 400 de origem industrial e 700 de origem doméstica (veja quadro nesta página).
O índice de despoluição de 50%, nos cálculos do governo, virá do programa de controle ambiental de 1.250 empresas, a ser adotado plenamente a partir de 95, e do tratamento de esgotos residenciais, que será reforçado com a inauguração da estação de tratamento do ABC, prevista para o final deste ano.
Somando-se os dois números, chega-se a 500 toneladas/dia, aproximadamente 50% das 1.100 de poluição orgânica diária. Em termos exatos, 45,4% do total.
"A campanha é uma insanidade com objetivo claramente eleitoreiro", critica o geógrafo Mário Mantovani, 38, do Núcleo Pró Tietê, ligado à Fundação SOS Mata Atlântica.
Os críticos não acreditam que o governo atinja a meta de tratar 150 toneladas/dia de esgotos domésticos. A principal objeção é feita à capacidade anunciada de tratamento da estação ABC (3 m³/seg). Atualmente, o Estado trata em todo o sistema 7,5 m³/seg. Estima-se que o volume diário de esgotos no rio Tietê gire entre 40 e 42 m³/seg.
"Não está resolvido o dimensionamento da estação. A do ABC vai operar parcialmente. Qualquer número que se falar é irreal", acrescenta Mantovani.
O empresário Antônio Carlos Germano Gomes, da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), tabém considera difícil o funcionamento da estação neste ano.
Segundo ele, os jornais da semana passada ainda traziam editais para a compra de equipamentos indispensáveis ao funcionamento. "É possível que não haja condições de produzir e instalá-los até dezembro", afirmou.
Gomes e Mantovani também levantam dúvidas quanto à rede coletora (interceptores e emissários) responsável para levar o esgoto a ser tratado na estação. "Pode-se ver nas marginais que as obras estão incipientes", diz Gomes.
A Sabesp rebate as afirmações e diz que a estação deverá entrar em pré-operação em outubro e funcionar plenamente em dezembro. "Os recentes editais foram para comprar material complementar", disse o assessor de imprensa Márcio Riscala.
Já o programa de controle da poluição pelas indústrias não causa polêmica. Estimado em US$ 500 milhões e monitorado pela Cetesb, o programa consumiu cerca de US$ 440 milhões de recursos próprios das empresas.
"O governo está fazendo média com o chapéu dos outros"afirma Mantovani.
A reportagem da Folha tentou ouvir sexta-feira o secretário José Fernando da Costa Boucinhas, de Planejamento e Gestão, cuja pasta é a responsável pelo Projeto Tietê. Sua assessoria informou que ele havia viajado.

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