São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Qual é, afinal de contas, o problema de Raí?

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

Raí, para mim, é uma esfinge. É um atleta, ao contrário de seu ilustre irmão, Sócrates, que era, antes de mais nada, um boêmio.
Sabe jogar. Já vi partidas impecáveis desse rapaz, tanto no São Paulo, seu ex-clube, como na própria seleção de Parreira.
Sabe driblar, tocar de primeira, lançar, cabecear e chutar.
E mais: é dedicado, disciplinado, inteligente e já acumulou experiência de títulos e decisões como poucos jogadores brasileiros que tiveram mais fama e tempo de bola dentro das quatro linhas.
Há jogadores, como Rivelino, que tinham um talento superior, mas que eram presas fáceis do próprio temperamento.
Riva poderia fazer uma jogada genial, para, em seguida, irritar-se com um companheiro e cair na maior depressão o resto da partida.
Ou, então, como seu contrário, o fleumático Ademir da Guia, cuja pressão não subia, nem descia, nem que chovesse canivete.
Engolia tudo, aceitava tudo, até o mais vil boicote na seleção jamais experimentado por qualquer outro craque. Calado, quase sonso.
Mas tanto Rivelino quanto Ademir eram transparentes. Estava estampado no rosto, no passe, no chute a gol, em cada gesto, o seu sentimento.
Raí, não. Parece de pedra. E, em campo, contraria as expectativas.
No jogo contra Camarões fez um bom primeiro tempo. Nada comparável aos seus melhores momentos. Mas era algo promissor. Percebia-se Raí solto, atento ao jogo, esperto nos movimentos. Enfim, era um Raí redivivo.
Eis que, no segundo tempo, desandou a fazer besteiras, uma atrás da outra, exatamente quando se esperava que, Brasil na frente, ele iria aproveitar a chance para dar a grande volta por cima.
Não só não deu, como ainda por cima saiu substituído por Muller, com a torcida aplaudindo o treinador pela decisão.
Razões físicas, não podem ser. Afinal, ele disparava em campo como um menino.
Técnicas? Nem pensar, pois ninguém desaprende. Psicológicas? Não é possível, pois ele mesmo me disse que já as tinha resolvido.
O que é, então? Sei lá. Só sei que isso cansa.

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