São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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A segunda dança dos saprófitos de cadáver

FROMER & REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não deixou de nos causar espanto a quantidade imensa de pessoas que ficaram felizes com a provável desclassificação precoce da Colômbia.
Menos do que comemorar a justíssima simpatia causada pela vitória do "mais fraco", o que mais se viu foram caras transtornadas de alegria quase que gritando "bem feito seus indiozinhos metidos".
Bastaram dois jogos para que os colombianos fossem acusados de toda espécie de sordidez e mau-caratismo. O Valderrama subitamente virou um perna-de-pau, e os três negrões Rincón, Asprilla e Valencia, preguiçosos e sangue-sugas.
Não há nada que desculpe a total ausência de futebol nos pés dos ex-craques colombianos. Mas o que chama a atenção são os novos defensores do futebol tímido. Como baratas afluindo dos bueiros no verão, surgem agora os adeptos do futebol humilde, que descobriram o inestimável valor do futebol semiprecioso do Dunga.
O que ouvimos agora espoucando nos quatro cantos de qualquer boteco é o riso de escárnio dos saprófitas do cadáver alheio.
Alguma coisa muita cínica e preocupante foi revelada no sorriso vingativo dos americanos recentes. Mas uma coisa ficou muito bem clara: os que vibraram com a derrota da Colômbia são na verdade admiradores do futebol de resultados.

Marcelo Fromer e Nando Reis são integrantes da banda Titãs. A sua coluna na Copa sai aos sábados, domingos e segundas.

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