São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Mundial é também a festa dos torcedores

MÁRIO MOREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Muito mais que uma festa do futebol, a Copa do Mundo é também uma festa das torcidas.
Com muito humor, os torcedores dos países participantes invadem os estádios onde os jogos são disputados e esforçam-se por apresentar o visual mais criativo.
Como de hábito, as maiores novidades vêm das torcidas de países considerados –pelo menos até o início da Copa– do "Terceiro Mundo" do futebol.
Ausentes dos Mundiais desde 1950, os bolivianos, por exemplo, apareceram com trajes típicos, com os gorros e ponchos usados pelos habitantes das margens do lago Titicaca, no noroeste do país.
Antes da partida de abertura da Copa, contra a Alemanha, "feiticeiros" bolivianos –supostamente detentores de milenar sabedoria– fizeram todas as rezas possíveis para que sua seleção saísse vitoriosa. Resultado: 1 a 0 para os alemães.
Os torcedores da África negra são um capítulo à parte. Trajados sempre com as roupas coloridas de suas tribos, camaroneses e nigerianos levam para os estádios o rufar de tambores –que virou clichê em filmes de Tarzan.
Eles mostram, nas arquibancadas, fantasia semelhante à que seus times exibem dentro de campo. No caso dos nigerianos, a vitória de 3 a 0 sobre a Bulgária ainda serviu de pretexto a uma alegre coreografia nas arquibancadas do Cotton Bowl, em Dallas.
Já para os torcedores sauditas, o verão americano deve fazer recordar o calor do deserto –não esqueceram em casa suas longas vestes brancas. Talvez pelo mesmo motivo, os mexicanos não dispensaram o uso do "sombrero".
Como adereço de cabeça, porém, a novidade mais interessante veio dos torcedores colombianos: uma peruca imitando a cabeleira do meia Valderrama.
No quesito alegria, os irlandeses são quase imbatíveis. Depois da vitória sobre a Itália, na estréia, eles invadiram os bares e pubs de Nova York para tripudiar sobre a imensa colônia italiana da cidade. Beberam até não mais poder –mas despertaram para a realidade com a derrota para o México.
Os italianos, por sua vez, estão mais discretos do que de costume. Talvez pressentindo a derrota inicial para a Irlanda, deixaram a torcida adversária tomar conta do Giants Stadium, em Nova York.
Com a dramática vitória de 1 a 0 sobre a Noruega, obtida no segundo jogo, espera-se que os "oriundi" dêem o ar de sua graça.
Em matéria de adereços de mão, os mais originais foram exibidos pelos suíços. Na goleada de 4 a 1 sobre a Romênia, eles badalaram pequenos sinos, semelhantes aos que aparecem no pescoço das vacas que compõem seus bem-nutridos rebanhos.
Se a seleção da Espanha mostra um futebol mais discreto do que seu apelido de "Fúria" faz crer, a torcida espanhola esforça-se por oferecer um ânimo extra ao time.
Sempre vestidos de vermelho, cor da camisa da equipe, eles se mantêm agrupados nos estádios, como a querer injetar sangue nas veias dos jogadores.
Entre os argentinos, o fato mais curioso ocorreu durante um treino da equipe, no dia seguinte à vitória de 4 a 0 sobre a Grécia: alguns torcedores foram ao estádio Foxboro, em Boston, vestidos de filósofos gregos, "homenageando" o adversário derrotado.
Entre os mais barulhentos, evidentemente, encontram-se os brasileiros. Que o digam os habitantes de San Francisco, que já começam a se habituar à batucada que se segue a cada vitória do Brasil.
E os da casa? Mesmo sem entender bem o que se passa num jogo de futebol, os americanos fizeram jus à fama de patriotas e "vestiram" o próprio país, pintando no corpo a bandeira dos EUA.

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