São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Romário quer ganhar Copa para entrar na história

JOÃO MÁXIMO; MÁRIO MAGALHÃES; MAURICIO STYCER
ENVIADOS ESPECIAIS A LOS GATOS

Romário quer ganhar a Copa para entrar na história
Atacante aponta Dunga como o jogador mais importante da seleção, critica rendimento de Raí contra Rússia e diz que os primeiros jogos do Mundial foram 'tecnicamente ridículos'
JOÃO MÁXIMO, MÁRIO MAGALHÃES e MAURICIO STYCER
Romário de Souza Faria, 28, é um dos jogadores mais cotados para ser a maior estrela desta Copa.
Tem futebol e tem carisma. É o mais requisitado de todos os brasileiros, o que mais dá autógrafos, aquele cujo nome é gritado com mais entusiasmo pelo coro de torcedores de camisa amarela.
Por 40 minutos, ele falou à Folha sobre tudo isso –e de como sua inclusão na galeria dos grandes craques da história depende de ser ou não campeão mundial.
Alguns aspectos polêmicos de sua carreira e personalidade também foram focalizados numa entrevista sob as árvores da Universidade de Santa Clara, assistida à distância por um punhado de jornalistas que também queriam entrevistá-lo. Não foi possível. Ele saiu correndo na direção do ônibus da seleção, evitando pagar multa por atraso: US$ 50.

Folha – O que significa ser a maior estrela do futebol brasileiro no momento? Uma alegria ou um peso?
Romário - É uma satisfação e, por outro lado, uma responsabilidade enorme ser considerado um dos jogadores mais importantes desta seleção.
Folha - Você tem consciência dessa importância?
Romário - Sim, mas sabendo que futebol é, mais que tudo, conjunto. Não posso fazer nada sozinho. O povo também tem que ter essa consciência.
Folha - Foi uma caminhada difícil transformar-se de menino pobre em craque de futebol?
Romário - Bastante difícil, bastante sofrida. Eu nasci no Jacarezinho, uma favela do Rio. Saí de lá com três anos, para morar na Vila da Penha, onde fiquei até os 20 anos. Quando eu falo em vida sofrida me refiro ao tempo anterior ao que fui jogar no infantil do Olaria, no juvenil do Vasco. Foram os anos de sacrifício de meus pais, que lutaram para nos sustentar, trabalhando duro, fazendo hora extra e tudo mais. Minha mãe lavava roupa. Até poucos anos atrás, ainda tinha a marca do tanque na barriga, de tanto esfregar roupa. Foi muito sacrifício para os dois.
Folha - Quando começou, no infantil do Olaria, você acreditava que um dia pudesse ser um ídolo nacional?
Romário - Sempre sonhei em ser um jogador de futebol. E quando senti que podia ser uma grande estrela, comecei a mentalizar isso. Falava comigo mesmo: "Eu tenho condições de chegar lá. Se outros chegaram, eu também posso".
Folha - E como se sente tendo chegado lá?
Romário - Tenho meus pés no chão. Sei o que posso e o que não posso dizer. Tenho sido muito tachado de cara problemático, de desagregador, mas este é o meu jeito. Folha - E qual é o seu jeito?
Romário - Se você me disser que isto é vermelho (aponta para uma lata de refrigerante) e não for vermelho, não vou falar que é vermelho. Sempre digo o que penso.
Folha - Isso lhe tem causado problemas?
Romário - Sim. Mas de noite, quando deito minha cabeça no travesseiro, durmo tranquilo. Sou um cara que, se eu tenho um problema contigo (aponta para um dos entrevistadores), eu vou resolver esse problema contigo.
Folha - Falando em cabeça no travesseiro, na véspera de uma partida você pensa no que vai acontecer em campo? Por exemplo, no gol que vai marcar?
Romário - Sempre que acaba uma partida eu já penso no gol que vou marcar na outra. Quando eu saio para o estádio, me desligo. Procuro levar uma fita para ouvir no "walkman". Se converso com um companheiro do lado, o assunto não tem nada a ver com o jogo.
Folha - Você reza antes de um jogo?
Romário - Sou católico. Rezo todo dia. Lá na Espanha, em Barcelona, vou à igreja uma vez por semana. Desde que estamos aqui, fui à missa duas vezes.
Folha - Isso tem alguma coisa a ver com seu brinco novo, em cuja extremidade há um pequeno crucifixo?
Romário - Não. Este meu brinco é assim porque eu acho legal. Mas eu sou um cara católico. Tenho muita fé em Deus.
(continua)

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