São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Empresa ocupa casarão reformado em SP

JULIANA RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Usar casarões antigos, que em geral têm ambientes amplos, como instalações e –de quebra– desfrutar do marketing politicamente correto da preservação. Essa é uma forma crescente de ocupação de imóveis velhos em São Paulo.
Empresas como o Centro de Diagnóstico Santana, um laboratório da zona norte de SP, investem milhares de dólares na conservação e reforma de casarões.
O laboratório ocupa a antiga sede da chácara da família Baruel na rua Voluntários da Pátria, que embora não seja tombada está sendo preservada.
Forros de pinha de riga, calhas de cobre, portas, corrimões de madeira e vitrais continuam como há cem anos por exigência da proprietária do imóvel, Iêda Ferreira dos Santos Mendes Pereira.
O sistema de ar-condicionado, por exemplo, é feito através de dutos para não aparecer nas janelas, o que comprometeria a fachada.
Segundo Luiz Fernando Ferrari Neto, 42, diretor do laboratório Bioclínico, já foram investidos US$ 50 mil na restauração do imóvel. Os gastos devem chegar aos US$ 600 mil, segundo ele.
Para Ferrari Neto, a ocupação de imóveis antigos é uma forma de tombamento, em que não há risco de deterioração por falta de uso.
Segundo a diretora do serviço técnico do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), Sueli de Bem, 39, o uso desse tipo de imóvel "é frequente".
"O que demonstra que cada vez mais as pessoas estão atentas à necessidade de preservação dos imóveis antigos", afirma Sueli.
Segundo ela, o Condephaat trabalha no sentido de tirar das pessoas o receio de ocuparem esses imóveis.
A entidades não coloca qualquer obstáculo à ocupação de imóveis preservados, mas toda reforma deve antes ser examinada e aprovada no órgão.
Arnaldo Waligora, 39, diretor da danceteria Odeon, instalada em um casarão da avenida Paulista, diz que só há vantagens na ocupação de prédios antigos. O prédio, que pertence à família Franco de Melo, está tombado desde 1992.
Segundo Waligora, esses prédios são espaçosos e chamam a atenção por sua imponência. Para a instalação da danceteria não foram necessárias grandes reformas. Somente as partes elétrica e hidráulica foram refeitas.
Para Waligora, além do retorno de marketing proporcionado pela ocupação do prédio, a utilização estanca o processo de deteriorização do imóvel.
Para o arquiteto, Edo Rocha, 44, o problema que os imóveis antigos enfrentam é devido a falta de iniciativa do governo em estabelecer regras claras que beneficiem os donos desses imóveis, principalmente os já tombados.
O que acontece, segundo ele, é que com o tombamento, os proprietários ficam prejudicados.
Para eles seria mais rentável, em alguns casos, como os dos imóveis da avenida Paulista, demolir o prédio e vender o terreno.
Para Edo Rocha, a solução seria incentivar o proprietário a investir no imóvel.
Como a Odeon, outras empresas estão utilizando prédios antigos para suas instalações.
O McDonald's, também na Paulista, é outro exemplo. Embora não seja um imóvel tombado, mantém a arquitetura preservada devido a utilização comercial.
Já o empresário Luigi Modesto, proprietário do Buffet Baiúca, encontrou outra forma para aproveitar um imóvel antigo.
No ano passado, ele comprou uma casa construída na década de 30 pela família Ribeiro de Barros, fazendeiros de café em Jaú (312 km de São Paulo), na avenida Rebouças (zona oeste), e a transformou na Mansão Rebouças.
O casarão é um espaço para eventos que vão de festas de 15 anos e casamentos a seminários para até 450 pessoas.
A Mansão oferece infra-estrutura como circuito interno de TV, telão, microfones, equipe de segurança e salas reservadas para 20 a 70 pessoas. (Juliana Ribeiro)

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