São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Colisão e coalizão

CLÓVIS ROSSI

BONN – Até pouco tempo atrás, a sabedoria convencional mandava dizer que partidos com candidatos eleitoralmente fracos aos governos estaduais (caso do PT) poderiam prejudicar seus candidatos presidenciais, mesmo quando estes fossem fortes.
É verdade que o PT nunca comprou, publicamente, tal tese, mas, agora, ela saiu definitivamente da agenda de preocupações do partido.
Não que seus candidatos estaduais tenham dado uma disparada nas pesquisas. Continuam onde sempre estiveram, ou seja, capengando. Exceto o Espírito Santo, onde o petista Vitor Buaiz lidera, não parece haver muitas chances de o partido emplacar governadores, ainda mais nos Estados mais importantes.
O que mudaram foram os sinais emitidos pelos candidatos de outros partidos aos governos. Pelas contas feitas no comando da campanha petista, não há praticamente um único Estado importante em que o líder nas pesquisas possa ser considerado um inimigo.
São Paulo, exatamente o maior colégio eleitoral, é talvez o melhor exemplo. Mário Covas (PSDB), líder com mais de 50% das intenções de voto, mais do que um não-inimigo está listado como eventual aliado para o futuro.
Futuro que tanto pode ser o segundo turno, na hipótese de Fernando Henrique Cardoso (também do PSDB) ficar fora dele, como o governo petista propriamente dito, se Lula de fato vencer.
O mineiro Hélio Costa e o baiano João Durval, igualmente líderes nas pesquisas, também já emitiram sinais de que não pretendem hostilizar o PT.
É possível que tais sinais não se concretizem quando for a hora. Suponhamos, por exemplo, que FHC vá ao segundo turno contra Lula. A lealdade partidária que Covas tem exibido até agora o empurraria para a colisão com o PT e não para uma coalizão.
Aliás, se se der essa hipótese, uma coalizão posterior à eleição se tornará mais complicada, ganhe Lula ou FHC. Ou, em resumo, a ausência de candidatos estaduais fortes pode até não atrapalhar Lula, como não o fez até agora, mas é no mínimo prematuro o partido contar aliados para governar desde já.

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