São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Miséria abafa 'feminismo' nas eleições

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de mulheres na política aumentou, e os problemas especificamente femininos atingem milhões de pessoas. Mas, desde o início desta campanha eleitoral, as "questões de gênero", como dizem as feministas, parecem não existir.
Para muitas das candidatas à Câmara, a extensão da miséria torna aparentemente menor a reivindicação especificamente feminina.
"Os problemas da mulher são gravíssimos, mas se diluem por causa da imensidão da crise", diz Rose de Freitas (PSDB-ES), que deixa a Câmara para se candidatar ao governo do Estado.
No Brasil, a renda média das mulheres é um terço da masculina. Todos os dias, são notificados cerca de 500 casos de violência contra a mulher, entre estupros e espancamentos domésticos.
Para algumas candidatas, como a deputada federal Maria Valadão (PPR-GO), candidata à reeleição, a questão não preocupa.
"A vida nacional tem outras prioridades. Não é preciso organizar mulheres para termos mais deputadas nem é preciso rasgar essas bandeiras. Cada mulher tem de conquistar seu espaço", diz Maria.
A estreante Marta Suplicy (PT-SP), candidata à Câmara, discorda e acha que a discussão ainda nem começou, apesar de considerar que a crise social abafa problemas como a disparidade salarial entre homens e mulheres.
"Faz pouco tempo que começaram a ser eleitas mulheres com cabeças próprias e preocupadas com questões femininas", diz.
A segunda é a preocupação em contestar a idéia de que a função das mulheres na política seja apenas defender os próprios direitos.
"As mulheres tem de ter consciência de que seu poder transformador vai muito além da defesa das bandeiras femininas. Elas são uma força nova na política", diz Marilu Guimarães (PFL-MS).
Marilu, que conduziu a CPI da prostituição infantil na Câmara, considera que o grande diferencial das candidatas é "que elas levam para a política a energia que elas tem na luta pelo seus filhos".
Sobre a discriminação, Marta diz que, "mesmo no PT, onde há maior esforço pela igualdade, ainda há preconceito. Entre os 71 candidatos à Camara por São Paulo, há 3 mulheres".
O PT adotou o sistema de cota (30%) para mulheres na direção do partido.
"Na Câmara, é difícil conseguirmos cargos de direção. Temos de lutar por mais espaço, mas acho que isso (a cota) é uma proteção que reforça a discriminação", afirma a deputada Marilu.
A terceira unanimidade é a ainda minúscula participação feminina na Câmara e as dificuldade que isso traz para a publicidade dos problemas da mulher.
No total dos atuais deputados, as mulheres são 6%. No eleitorado, elas são 49,6%. "Aumentar as bancadas já ajudaria a diminuir o preconceito", diz Rose de Freitas.

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