São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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'Sugiro um palanque feminino'

DA REPORTAGEM LOCAL

Rose de Freitas, ex-deputada federal (PSDB), que concorre ao governo do Espírito Santo, acha que as candidatas deveriam se apoiar independentemente do partido.
"Gostaria de convidar a Roseana Sarney (candidata ao governo do Maranhão pelo PFL) para o meu palanque".
A deputada Marilu Guimarães (PFL-MS), que disputa a reeleição, concorda. "Há muitas coisas que as mulheres precisam fazer por si, e só elas podem fazer".
A intenção das duas parlamentares não se reflete na atitude das candidatas em relação aos movimentos feministas, que poderiam apoiar esses palanques femininos.
Beatriz Canabrava, fundadora da Rede Mulher, organização feminista que presta assessoria para mais de dois mil grupos de mulheres espalhados pelo país, diz que não foi procurada por candidato algum, homem ou mulher.
Beatriz, que é brizolista, diz também que a entidade, suprapartidária, não está apoiando nenhum político, o que já fez em 1988. "Organizamos uma frente para eleger Luiza Erundina como prefeita de São Paulo".
Aparecida Gonçalves, coordenadora da Central de Movimentos Populares, ao qual estão ligados cerca 600 movimentos de mulheres, também diz que não sente a preocupação dos políticos.
"Para piorar a miséria é tão aguda que a maioria do eleitorado está preocupada com questões mais imediatas –a comida e o emprego, qualquer que seja. Os discursos feministas atingem mais a classe média".
Voto feminino
Se as mulheres quiserem aumentar suas bancadas, vão ter que procurar votos tanto entre homens como mulheres.
Segundo as pesquisas eleitorais, é muito mais provável que a renda, instrução e idade de um eleitor determine a escolha de um candidato do que o seu sexo.
Eleitores e eleitoras do mesmo nível de renda e escolaridade votam da mesma maneira.
Segundo a cientista política Maria D'Alva Gil Kinzo, da Universidade de São Paulo, "o diferencial importante é entre mulheres que trabalham fora e donas-de-casa, de voto mais conservador", diz.
Tal fato, segundo a cientista política, serve para demonstrar um possível equívoco da estratégia eleitoral de Esperidião Amim (PPR) e Orestes Quércia (PMDB) ao escolherem suas vices.
"Essas candidatas foram escolhidas por terem o perfil de donas-de-casa e esposas (são mulheress de políticos). A tendência das mulheres de voto mais conservador seria de não votar em mulheres, enquanto as que trabalham fora, mais progressistas e preocupadas com a emancipação feminina, seria a de não votar nessas mulheres escolhidas, de perfil mais tradicional", analisa Kinzo.

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