São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Petistas organizam 'holding da miséria'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sem-terra, sem-teto, sem-saúde e mais um série de organizações possuem agora uma espécie de "holding" (controladora) que congrega entidades de marginalizados de todo o país.
A "holding" atende pelo nome de CMP (Central de Movimentos Populares). Foi criada no fim do ano passado e já filiou 30 entidades, que representam os chamados "excluídos sociais" e minorias.
CUT dos indigentes
A CMP é uma espécie de CUT (Central Única dos Trabalhadores) dos indigentes e dos desempregados. O domínio político, a exemplo da CUT, também é do PT.
É mantida pelas entidades filiadas e também com recursos obtidos junto a entidades estrangeiras, como agentes de cooperação internacional e organizações não-governamentais.
A sede fica na rua Sebastião Alves Faria (região central de São Paulo), onde sete coordenadores, de todas as regiões do país, dividem a administração.
Na hipótese de uma vitória petista nas eleições, as expectativas desses movimentos serão um dos maiores focos de pressão sobre Luiz Inácio Lula da Silva.
As pressões
Os sem-terra querem legalizar a posse dos terrenos ocupados por 16,7 mil famílias, os sem-teto pretendem resolver o problema da falta de pelo menos 8 milhões de moradias e assim por diante.
Em alguns bolsões de miséria do Nordeste, por exemplo, a expectativa beira o messianismo –palavra bíblica que vem de Messias e define a crença em um salvador, um redentor.
Essa expectativa chega a preocupar setores do PT.
Militantes
A CMP possui 25 mil militantes nas mais diferentes entidades. Do Movimento Popular de Saúde – que cuida dos chamados "sem-saúde"– às organizações de gays e lésbicas, a entidade procura abranger todos os setores da militância organizada.
"Num governo Lula, teremos mais espaço e chance para avançar nas conquistas", diz Aparecida Gonçalves, uma das sete pessoas que coordenam a CMP.
A função da "holding" é transformar em pressão política as reividicações regionais das organizações populares.
Logo que tomar posse, o futuro presidente vai receber a visita, em Brasília, de uma caravana de 10 mil pessoas da Central dos Movimentos Populares.
A caravana está sendo organizada desde já. Os coordenadores avaliam que terão dobrado o número de entidades filiadas à CMP até a data deste evento.
No momento, tentam atrair os militantes da União Nacional de Moradias, grupo também ligado ao PT e com forte atuação da Igreja Católica em São Paulo.
Um dos membros mais atuantes da União é o padre Antonio Luis Marchione, o padre Ticão, que comanda uma legião de sem-tetos na zona leste de São Paulo (Leia reportagem nesta página).
Segundo os coordenadores, a Central não fica somente restrita ao PT e mantém laços de atividades com grupos do PC do B, PSB e PSTU –partidos aliados na defesa da candidatura de Lula.
Favelados
A reforma urbana é a prioridade da CMP. Os movimentos que reúnem favelados e sem-tetos representam a maior força na "holding".
Embora as atenções políticas hoje estejam mais voltadas para os sem-terra, os conflitos nas grandes metrópoles, na avaliação dos dirigentes da Central, têm acontecido com maior frequência.
Numa cidade como Recife, por exemplo, acontece uma média de oito invasões de terrenos a cada dia. Lá, existem 251 favelas.
SexistaAlém da atenção aos grupos ligados às reformas agrária e urbana, a CMP tem uma preocupação permanente com mudanças comportamentais na sociedade.
Por este motivo é que tem, entre os seus "planos e bandeiras de lutas", a defesa da inclusão nos currículos escolares de uma "educação sexual não sexista".
Traduzindo: uma educação sexual que não pregue a supremacia de um sexo sobre o outro, estabelecendo-se a igualdade entre homens e mulheres.

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