São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamar queria eliminar fundo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Na véspera do lançamento do Plano Real, o presidente Itamar Franco quase derrubou o Fundo de Amortização da Dívida Mobiliária Federal, um dos mais importantes instrumentos do programa de estabilização.
Na manhã de quinta-feira, antes da reunião ministerial que lançou o real, o ministro Rubens Ricupero conseguiu convencer o presidente a aceitar modificações que salvaram o fundo.
O fundo será formado com ações de estatais que o BNDES venderá para quitar títulos da dívida. Chegou a ser distribuída uma versão da MP do real na qual se dizia que estariam excluídas do Fundo de Amortização as ações de quatro estatais: Petrobrás, Vale do Rio Doce, Telebrás e Eletrobrás.
Essa versão, feita pela Presidência da República, inviabilizaria o fundo. São as ações mais valiosas. A equipe econômica conta com elas para matar dívidas do governo sem gerar inflação.
Na versão final da MP, a restrição para venda dessas ações foi suprimida. Para convencer Itamar, Ricupero disse que, em primeiro lugar, as ações de estatais só podem ser transferidas para o fundo com autorização do presidente.
Além disso, lembrou que Telebrás e Petrobrás são monopólios da União por determinação da Constituição. O controle dessas empresas não pode ser vendido.
Finalmente, Ricupero disse que o fundo, no caso dessas grandes empresas, vai vender ações em quantidade que não comprometam o controle do governo.
Na verdade, Itamar havia cismado com a idéia do Fundo de Amortização desde o início. Desconfiou que a equipe estava contrabandeando uma nova forma de privatização, política que o presidente não aprecia e só aceita porque não tem como evitá-la.
Mesmo assim, Itamar só topou o Fundo com a exclusão das ações das quatro maiores estatais. Foi só no último momento que Ricupero conseguiu tirar essa restrição.
Não foi esse o único desencontro entre a equipe e o presidente. Na véspera, Itamar ainda insistiu no controle de preços.
Em particular, o presidente perguntou à equipe, na última reunião, se não poderia congelar ao menos a cesta básica. Sugeriu ainda "prisões exemplares" de alguns empresários.
Nada disso passou. A equipe acredita que os preços ora elevados cairão com o real, mas não por causa de ameaças e sim pela falta de dinheiro para compras.
Os limites de emissão de reais também foram contestados no Palácio do Planalto. O presidente do Senado, Humberto Lucena, levou a Itamar a opinião segundo a qual o limite estreito para emissão de reais provocaria recessão na economia. A tese não prosperou.

Texto Anterior: Itamar quer proteção para salários
Próximo Texto: Preço do pão terá 'regra clara'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.