São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Brasil x EUA divide moradores de Los Gatos

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

Uma pequena cidade da Califórnia não vai estar unida amanhã, no dia da independência dos EUA.
Apesar de patriotas ao extremo, como todos os demais norte-americanos, os moradores de Los Gatos estão divididos.
Centenas de "los gatans" (como se chamam os moradores da cidade) vão torcer pelo Brasil amanhã, no estádio de Stanford, na partida contra a seleção dos EUA.
A cidade, que hospeda a seleção brasileira desde 26 de maio, se ligou afetiva –e economicamente– ao Brasil.
"Estamos divididos. Nem todo mundo aqui está torcendo pelos Estados Unidos. Nos divertimos tanto com os brasileiros que vamos ficar felizes se eles ganharem", diz Dale Shue, dono da loja Pots, Prints e Posies.
Shue, 65, está vendendo desde quinta-feira uma camiseta criada especialmente para a partida entre Brasil e EUA amanhã.
A T-shirt, vendida a US$ 16, traz as bandeiras dos dois países aplicadas sobre fundo branco, as palavras "boa sorte" nas duas línguas e uma frase em inglês: "Orgulhosamente festejando juntos".
Em defesa do Brasil, Shue argumenta como muitos outros moradores de Los Gatos: "Se os EUA ganharem, acho que eles não têm chance de seguir adiante na Copa. O Brasil, se ganhar, pode com certeza chegar à final".
Candace Baker, vendedora da loja de Shue, conta que há três semanas havia perguntado a seus amigos o que aconteceria na cidade se o Brasil enfrentasse os EUA na Copa do Mundo.
"Eles diziam que era ridículo pensar isso. Hoje estou dividida. De verdade. Desejo boa sorte a vocês e a nós. Não dá para ser empate?", pergunta, mostrando desconhecer o regulamento do Mundial.
A partir das oitavas-de-final, os jogos são eliminatórios. Em caso de empate, há prorrogação de 30 minutos. Prosseguindo o empate, a partida é decidida nos pênaltis.
Na dúvida entre qual seleção torcer, muitos los gatans optaram por ficar em cima do muro –ou, como gostam de dizer os norte-americanos, resolveram agir de forma politicamente correta.
A loja de roupas Adrienne's, na avenida principal de Los Gatos, instalou, na sexta-feira, dois manequins na calçada, cada um segurando a bandeira de um país.
"Somos politicamente corretos. Vou torcer pelos dois times, juro", diz a vendedora Leslie Powers, 25. Sua colega de trabalho, Anne Lowell, 26, acrescenta: "Não sei para quem torcer. Queria que todo mundo ficasse feliz".
Menos diplomático, o contador Joseph Chalhoub, 30, veste uma camisa da seleção norte-americana, mas diz: "Me sinto um pouco desconfortável de torcer pelo Brasil. Mas não posso torcer pelos EUA. O Brasil sempre foi meu time de futebol".
Nem todos os moradores estão se sentindo à vontade com a situação. Na loja de design Diddams, uma bandeira do Brasil enfeitava a vitrine na sexta-feira de manhã. Meia hora depois da visita da Folha, uma bandeira norte-americana também apareceu na vitrine.
Margo Lawrance, gerente da loja, foi sincera: "Não vou torcer por nenhum dos dois times. Sinceramente, não faz a menor diferença para mim quem ganhe. Não gosto de futebol", diz.

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