São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Copa já acabou no doce lar de Chicago

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Meus amigos, meus inimigos, chego a Chicago com quatro olhos, como diria o Manu Bandeira. Dois do cansaço das viagens e das poucas horas de sono. E dois de prematura nostalgia.
A Copa começou aqui. Hoje, domingo, também já deve ter acabado por aqui, com o jogo Alemanha X Bélgica. Chicago é uma espécie de coração dos EUA. Seu aeroporto é um dos três maiores do país.
Por Chicago, passam todas as conexões. É onde todas as rotas se cruzam. Por isto, virou uma espécie de base estratégica para todas estas minhas viagens pela América atrás da bola.
Eu chegava de uma viagem que cruzou os EUA de Norte a Sul. Saí de Detroit, Michigan, quase no Canadá, e fui para Orlando, Flórida, terra da laranja, para ver a laranja mecânica holandesa.
Orlando, o brasileiro conhece bem. Paraíso artificial. Tudo parece ser uma locação de filme dos anos 50, dos tempos da brilhantina, do cadillac e do rock'n'roll. A vida é uma vitrine neon-realista.
Uma Disneymundo. Lá, descubro que, pela primeira vez depois de meio século, as moças que trabalham para a Disney poderão se maquiar e usar brincos.
E os rapazes ganharam dois novos tipos de corte de cabelo permitidos. Agora, são quatro. Se o mundo não é um espelho mágico, azar o dele, pensam os estúdios.
"Mikei em Orlando", brinca uma repórter brasileira. De Orlando fui ao Texas, a terra com mania de grandeza. É como se eu tivesse saído de Bebedouro, São Paulo, e ido a Itu, também São Paulo.
O texano é um ser à procura da sua autenticidade. Tudo nele é auto-afirmativo. O chapéu. As botas. A fivela do cinto. Até o "chili" eles juram não é mexicano e, sim, autenticamente texano.
Não são tão esnobes como os californianos. A Califórnia quer ser chique até no casual. Também não falam tanto de si como os bostonianos (aliás, Boston é outra cidade de caráter, mas em outro sentido).
Estamos em feriado prolongado nos EUA. Segunda, dia do jogo do Brasil, é o dia da Independência. Na sexta, havia por aqui uma exuberante celebração da natureza. Verão de intensas possibilidades.
A avenida beira-lago (de águas verdes) lembra muito o aterro do Rio. É quase tão bonita. Mas mais civilizada. Na praia, 9 da noite, ainda com sol, pessoas fazem o seus exercícios, jogam vôlei, patinam...
Faço o check in no mesmo hotel pela quinta vez em duas semanas. Sinto-me um homeless, um sem teto, literalmente um fazendeiro do ar, como diria o poeta Carlos, escorpião como o Maradona.
O rapaz da recepção do hotel me reconhece e diz: "Bem-vindo a sua casa, Mr. Suzuki". Doce lar de Chicago, lê-se nos cartazes por aqui. Ele sai por alguns minutos e volta com uma champagne.
"Isto é para comemorar a sua volta", diz. Esta é a cidade da arquitetura. Um arquiteto famoso deste país disse que Deus está nos detalhes. A felicidade também está nestes pequenos detalhes. Tim-tim.

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