São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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"Este Mundial não permite três atacantes"

ROMÁRIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O jogo contra a Suécia nos demonstrou que o caminho rumo ao título estará cheio de dificuldades, que teremos que trabalhar muito para seguir adiante nas partidas. Mas isso não me assusta. Estou preparado. Estou dando tudo pelo Brasil. O time tem que ir a campo com a convicção de que somos uma grande equipe, mas com a modéstia que acompanha os grandes campeões.
Por isso gostei da cara do Brasil no segundo tempo contra a Suécia. Foi possível ver claramente que este grupo está unido. O jogo contra a Suécia pode servir para calar muitos rumores, que surgiram fora da seleção, sobre rivalidades internas. No Brasil atual não há líderes, mas jogadores respeitados, futebolistas marcantes por seu caráter, como é o meu caso e o de Ricardo Rocha ou Dunga.
Vocês podem pensar que mudei minha visão do futebol desde que me concentrei com a seleção. Não é verdade. O que ocorre é que um Mundial é muito mais importante que qualquer conceito futebolístico. Gostaria de jogar aberta e ofensivamente, com um ataque formado por três atacantes, mas sei que isto é inviável em um torneio como este. E mais: tenho que reconhecer que não me importaria em ganhar todos os jogos por 1 a 0, mas ganhando.
Hoje, o Brasil é muito forte defensivamente, mas isso não quer dizer que não saibamos atacar. Essa pode ser a falha de nossos detratores. "O Brasil joga muito atrás", nos acusam. Isso é falso. Ou, pelo menos, não vejo assim. Vejo uma seleção brasileira com um futebol de ataque potente. Unimos a técnica e a garra e criamos uma nova concepção de futebol moderno.
Tenho certeza de que este pode ser o Mundial do Brasil –e o meu. Entro em campo com a intenção de divertirme-me, mas sei que ainda tenho que demonstrar às pessoas quem é Romário, porque só me conhecem no Brasil, na Holanda e na Espanha. A partir de agora, gostaria que quando as pessoas falassem de futebol se referissem a Romário. Acho difícil que apareça outro Pelé. Passará muito tempo para que surja outro gênio como ele, mas sei que passarei à história devido aos meus gols.
Quero oferecer à minha gente este prêmio, pelo bem com que trataram a minha família, quando aconteceu o triste sequestro de meu pai. Difilmente conseguirei esquecer o comportamento do povo brasileiro. Tenho uma dívida e espero pagá-la com a conquista da Copa do Mundo. A vitória será para eles.

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