São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Skidmore organiza coletânea sobre TV

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao organizar um seminário e editar um volume sobre a influência da televisão na democratização latino-americana, Thomas Skidmore se aventura em um assunto novo. Novo para ele e novo para as ciências sociais do continente. Afinal, como esse versátil brasilianista afirma em sua introdução, a televisão enquanto veículo de massa é recente entre nós e a pesquisa sobre sua influência, incipiente.
A coletânea é composta de nove pequenos artigos escritos por 12 especialistas em mídia (nota-se a ausência do argentino Oscar Landi). As contribuições versam principalmente sobre quem controla a televisão e quão decisiva é sua atuação política. Os primeiros artigos tratam de questões gerais como a ameaça do satélite ao controle sobre a programação até hoje exercido pelos governos nacionais e a história das relações entre rádio, televisão e Estado na região. As demais contribuições são estudos de caso. Adotando metodologias e linhas teóricas diferentes, os analistas discutem o poder de influência da televisão nas eleições presidenciais de 1989 no Brasil e na Argentina, de 1988 no México, e no plebiscito que decidiu pela volta à democracia no Chile de 1988. Dos seis artigos incluídos nessa categoria, três tratam do Brasil.
A polêmica sobre o uso da televisão na eleição de Collor é ilustrativa das dificuldades colocadas pelo tema. Venício de Lima, o autor que mais enfatiza a influência da televisão em todo o volume, afirma que as novelas exibidas pela Globo durante a campanha jogaram papel decisivo na eleição. Straaubhaar (veterano analista de nossa televisão), Olsen e Nunes analisam dados colhidos em }surveys e sugerem que a influência da TV foi importante, mas é indissociável de fatores como laços sociais e comunitários. Já Carlos Eduardo Lins da Silva nega uma influência decisiva da mídia na eleição de Collor.
Embora o volume tenha sido motivado pela idéia de que a televisão assume papel crucial na definição dos rumos políticos das novas democracias, a maior parte dos artigos tende a ponderar a influência da telinha. Os analistas apontam para a atuação combinada de diversos fatores na definição do voto: de relações familiares e interesse de classe, à variáveis culturais vagas. Mais do que concluir sobre a influência da televisão, os trabalhos incluídos nesse volume contribuem para informar sobre a pluralidade de relações possíveis entre televisão, Estado e eleições na América Latina.

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