São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Metade das 6 mil línguas corre perigo de extinção

SCOTT BOWLES E HUGH MCCANN
USA TODAY, DE ARLINGTON

O eyak é uma língua falada no Alasca. Mas está quase morrendo. Dois anos atrás só restavam duas pessoas no mundo que falavam eyak –Marie Smith Jones e sua irmã, Sophie Borodkin. Quando Sophie morreu, em 1992, Jones tornou-se a última remanescente da tribo eyak, e a última pessoa a falar sua língua.
Sua preocupação é compartilhada por cientistas e linguistas. À medida que aumentam as comunicações eletrônicas e a tecnologia computadorizada, as línguas desaparecem: cerca de metade dos 6.000 idiomas falados no mundo enfrentam o perigo de extinção.
Cientistas vêm aumentando seus esforços para documentar as línguas nativas –idealmente, para salvá-las, mas mais provavelmente para lhes dar um lugar na história.
"Cada língua humana é um recurso cultural único e insubstituível", disse Paul Chapin, diretor de programas da Fundação Nacional de Ciências. "Quando uma língua desaparece, ela leva consigo sua literatura, sua mitologia e, em alguns casos, uma poesia profunda e fascinante que reflete a cultura em desaparecimento".
Quando Marie Smith Jones nasceu, no minúsculo povoado de Eyak (que hoje se chama Cordova e fica a 115 km de Anchorage), só restavam cinco famílias eyaks. "Cresci no mundo dos homens brancos", conta Jones. "Na minha escola, as crianças falavam inglês. Ou eu aprendia em inglês ou não aprendia nada". À medida que seus amigos e familiares morreram, Jones passou a não ter com quem falar em eyak. Seus nove filhos e 32 netos falam inglês.
Milhares de línguas tribais africanas estão ameaçadas pela pressão constante do inglês, francês, árabe e suahili. Na Grã-Bretanha, o número de pessoas que falam galês, irlandês e gaélico escocês diminui a cada geração.
Colette Craig, linguista da Universidade do Oregon, trabalha há oito anos documentando o rama, uma das três línguas nativas da Nicarágua, falada hoje por menos de 35 pessoas. "A língua rama nunca foi escrita ou padronizada", diz.
O rama está sendo ensinado agora às crianças das aldeias nicaraguenses, a partir de regras gramaticais padronizadas por Craig, pequenos dicionários e fichas. Segundo os observadores, isso prova que algumas línguas –como animais ou plantas em perigo de extinção– podem ser resgatadas.
O hebraico, língua semítica antiga, sobreviveu como idioma escrito fundamental à fé e à cultura judaica, mas ninguém a falou durante quase 1.700 anos. Na década de 1880 o imigrante Eliezer Ben-Yehudah chegou na Palestina e começou a falar hebraico com sua família. Hoje o hebraico é a língua principal de Israel.
Os especialistas vêem a volta por cima do hebraico como um fenômeno linguístico que não tem paralelos nos tempos modernos. Mas é uma exceção à regra. Na maioria dos casos, o máximo que os linguistas podem fazer é documentar o máximo possível de uma língua antes que ela desapareça.

Tradução de Clara Allain

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