São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994 |
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O Brasil e os brasileiros
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Qual foi o fato mais marcante de junho para o cotidiano das pessoas? Certamente foi a disparada de preços, em especial nos últimos dias de vigência do cruzeiro real.Qual seria o comportamento lógico diante desse fenômeno? Certamente, desconfiar crescentemente de um plano econômico que se diz destinado a estabilizar os preços, mas provoca, no seu momento inaugural, exatamente o oposto, certo? Errado, prova o Datafolha, conforme pesquisa publicada ontem por este jornal. Houve justamente o inverso: cresceu a confiança pelo menos dos paulistanos no plano. A única maneira coerente e lógica de analisar tal resultado é enfileirar chavões no que resta deste espaço. O título, aliás, teria que ser o mais do que previsível "brasileiro, profissão esperança". E o texto viria carregado de coisas como "a esperança é a última que morre", "de ilusão também se vive" e assim por diante. Só assim para explicar a aparente contradição. O brasileiro parece condenado a ter que ter esperança, mesmo que a realidade cotidiana contradiga qualquer otimismo. Ou, para manter o tom lugar-comum, a reação da maioria enquadra-se no "já que o estupro é inevitável, relaxe e goze". De que adiantaria, afinal, manter o ceticismo sobre o real, apurado pelo Datafolha em pesquisas anteriores? O governo não deixaria de adotar a nova moeda, com ceticismo ou com otimismo. Os preços não deixariam de disparar com otimismo, pessimismo, revolta ou conformismo. Mas cuidado. Apesar de amplamente positiva para o plano, a pesquisa mostra que a indifereça e o pessimismo ainda são majoritários. Afinal, 36% dos pesquisados dizem que o plano não faz diferença para suas vidas pessoais e outros 21% sentem-se pessoalmente prejudicados. É um terrível contraste com os 69% que acham que, para o país, o plano é bom. Como se o Brasil fosse parte de outro planeta, incapaz de melhorar a vida de seus cidadãos. Aí, sim, a pesquisa revela uma coerência impecável com a história do país e de sua gente. Texto Anterior: REAL E MITO; PASTEL; O MUNDO DÁ VOLTAS; JOÃO ALVES DE DEUS; A OBRA DO FUTEBOL Próximo Texto: A dificuldade faz o homem Índice |
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