São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Muito cara, mas inútil

JANIO DE FREITAS

O PFL ainda está por justificar a aliança tão cara (nos dois sentidos) a Fernando Henrique. A pesquisa divulgada anteontem pelo Datafolha indica que as piores posições de Fernando Henrique continuam sendo em dois Estados ditos do PFL, pela posse do governo.
Na Bahia, de onde o pefelista Antônio Carlos Magalhães não deixa de emitir críticas ao comando da campanha do PSDB-PFL-PTB, Lula, com 45%, está mais de 100% acima dos 22% de Fernando Henrique. Em Pernambuco, dos 18% de Fernando Henrique para os 42% de Lula há a diferença de 133%. Nestes dois Estados ditos pefelistas, portanto, Fernando Henrique ainda não chegou sequer à metade do índice de Lula. E no terceiro dos três com governo do PFL, Santa Catarina, com 19% perde para o candidato da terra, Esperidião Amin (29%), e para Lula (25%).
Mas o outro lado da aliança, o próprio PSDB, por ora não faz melhor figura. Além da enorme distância entre os apoios a Mário Covas e Fernando Henrique em São Paulo, no Ceará controlado com mão forte pelo PSDB de Ciro Gomes e Tasso Jereissati o partido não se mostra capaz de diminuir os 66% de que o seu candidato, com 24%, dista dos 40% de Lula. Nem mesmo as manipulações eleitoreiras de verbas públicas, feitas pelo ministro peessedebista e cearense Beni Veras, produziram efeito até agora. Se considerarmos que o candidato ao governo estadual, o mesmo Jereissati, figura na pesquisa com 64%, o desempenho eleitoral do PSDB cearense é o grande vexame desta sucessão presidencial.
Sofre, mas gosta
Uma das características do PT é a de que nele nada pode ser simples. Tudo há de ser complicado e conflituoso, com um traço de masoquismo que pune não se sabe bem o quê.
Está aí o PT todo enrolado por causa das denúncias contra o senador José Paulo Bisol. Não satisfeito com os ferimentos pelas pedras que lhe atiram, usa-as ainda para esfolar o próprio corpo. Não seria necessária, porém, mais do que uma providência simples: estabelecer com o senador o prazo para apresentação de sua defesa e, à luz dos documentos, tomar a decisão sobre sua permanência como candidato a vice. E pronto. O que há mais a fazer sensatamente além disso?
Mas, se as coisas se passassem com a simplicidade possível, não haveria conflito, angústia e mutilações. Convenhamos, não seria o PT.
Não é, mas é
Os economistas oficiais, além de tudo, falam. E aí está o problema.
Na mesma entrevistinha que deu anteontem no Rio, o assessor especial do ministro da Fazenda, Edmar Bacha, advertiu que "não é mais a Fiesp que faz a política monetária" e explicou assim a altitude das taxas de juros: "os empresários têm que mudar sua política de preços para as taxas de juros irem para os níveis internacionais". E ainda esta sobremesa: "depende da Fiesp".
A crer, portanto, na explicação de Bacha para os juros –crença que não se recomenda– é a Fiesp que continua fazendo a política monetária.

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