São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994 |
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Para opositores de FHC, Real vai "quebrar" país
FERNANDO BARROS E SILVA
Adversários eleitorais de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a economista Maria da Conceição Tavares, candidata à Câmara pelo PT do Rio, e o economista João Manuel Cardoso de Mello, coordenador do programa de Orestes Quércia (PMDB), têm sobre o Real avaliações igualmente catastrofistas. O que pensam os dois os afasta da avaliação que fazem do plano os eleitores do PT e PMDB. Pesquisa Datafolha, feita entre os dias 11 e 13 deste mês, revelou que 63% dos que pretendem votar em Lula e 72% dos que apostam em Quércia acham que o plano está sendo "bom para o país". Com a estridência que lhes é comum, Maria da Conceição e Cardoso de Mello dizem que a lógica do plano vai conduzir o país à recessão. Afirmam ainda que ele vai tornar inviável a sobrevivência de parte significativa da indústria nacional e levar o atual apartheid social ao paroxismo. "O panorama é negro", diz João Manuel. "Cerca de 30% ou 40% da indústria textil vai desaparecer; boa parte da indústria de bens de consumo vai virar importadora. O plano vai arrebentar tudo. É só esperar e ver", completa. Na mesma linha, Maria da Conceição diz que, "com este plano, estamos entrando na paz do cemitério". Com essa imagem, sugere que o único benefício eleitoral que o plano pode trazer a FHC será "provocar uma abstenção selvagem" nas eleições. Essa opinião encontra eco nas posições do cientista político Roberto Mangabeira Unger, professor titular da universidade de Harvard, nos EUA, e principal ideólogo do PDT de Leonel Brizola. "O plano acabará por ser impopular. As medidas populistas destinadas a açucarar o plano apenas agravarão sua impopularidade porque deixarão patente o jogo de favorecimentos e de exclusões que está em curso", completa. Une os intelectuais do PT, PMDB e PDT a avaliação comum de que a candidatura FHC teria o projeto histórico de incluir o Brasil no chamado Consenso de Washington. A expressão resume a estratégia de estabilização econômica chancelada pelo FMI e pelo Banco Mundial, destinada aos países periféricos, para adaptá-los às exigências do novo cenário internacional. Contra esse consenso, Maria da Conceição diz que "não se pode fazer nenhum plano mirabolante, como é o real". Segundo ela, a alternativa de um eventual governo Lula "será ter paciência e negociar caso a caso, camâra setorial a câmara setorial, estatal a estatal". Ou, então, adverte a economista, "você racha o país ao meio e transforma os miseráveis em carvão a ser consumido pela história em nome de uma suposta inserção do país na ordem internacional". Contra Conceição, o economista Roberto Macedo, ex-secretário de Collor e candidato à Câmara pelo PSDB, diz que só FHC teria disposição para assumir politicamente a consolidação do plano. Lula, uma vez na Presidência, teria duas alternativas, segundo Macedo: "ou ele vira um novo Menem e joga fora seu programa de governo, ou tenta cumpri-lo e arma uma confusão imprevisível". Hoje distante da responsabilidade de pensar um projeto alternativo ao Real, o ex-ministro e deputado Delfim Netto (PPR-SP), de novo candidato, é ambíguo em relação ao plano. "A engenharia eleitoral do plano é melhor do que a econômica", alfineta Delfim, para quem, no entanto, "o resíduo positivo que o Real deve deixar não pode ser desprezado pelo futuro presidente, qualquer que ele seja". (Fernando de Barros e Silva) Texto Anterior: A hora da virada Próximo Texto: Palmeira liga usineiros de Collor a FHC Índice |
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