São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Palmeira liga usineiros de Collor a FHC

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O candidato a vice-presidente na chapa do PSDB, senador Guilherme Palmeira (PFL-AL), garantiu a Fernando Henrique Cardoso o apoio dos mesmos usineiros alagoanos que ajudaram a financiar a candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência em 89.
Esses usineiros fornecem agora estrutura à campanha de FHC e Palmeira. Destinaram quatro aviões e um helicóptero para transportar políticos e jornalistas na visita de FHC a Delmiro Gouveia (sertão de alagoas), em maio.
Segundo a legislação, esse tipo de doação é irregular se não for trocada por bônus eleitorais.
Os aviões usados são da Lug Táxi Aéreo, de propriedade do usineiro e ex-senador João Lyra (sogro de Pedro Collor de Mello), e da Sotan, empresa que pertence a Carlos Lyra, irmão de João e também usineiro.
Esses empresas emprestavam seus jatinhos para o então governador Collor iniciar sua campanha à Presidência, em 89.
Carlos Lyra foi quem mais se empenhou para receber FHC, que visitou sua fábrica de beneficiamento de algodão, na cidade de Delmiro Gouveia.
FHC discursou para os 760 operarários da fábrica de Lyra, que almoçaram pela primeira vez no local de trabalho.
"Estamos recebendo bem o senador Fernando Henrique atendendo a um pedido do amigo Guilherme Palmeira. Ele mostrou que é um homem capaz de governar bem o país", disse Carlos Lyra.
O usineiro João Tenório, presidente da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas, se diz amigo de infância de Palmeira, mas justifica seu apoio a FHC com outro argumento.
"O país está extremamente carente de uma pessoa inteligente. O Fernando Henrique pode promover inteligência ao governo", afirmou.
O pai de Palmeira, senador Rui Palmeira, foi um dos maiores fornecedores de cana para usinas de Alagoas e fundou a Asplana (Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas).
Suspeitas
Os usineiros alagoanos são personagens controvertidas de escandâlos finaceiros. Foram personagens constantes na CPI que culminou com o impeachment do ex-presidente Collor.
Depois de travarem uma batalha política e jurídica com Collor, no início do governo alagoano, em 87, os usineiros fecharam dois acordos com o então governador.
Pelos acordos, o Estado se comprometia a devolver US$ 105 milhões em créditos de ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), num período de dez anos.
Esses acordos levaram o Estado a perder cerca de 54% da sua fonte de arrecadação.
O candidato de Guilherme Palmeira ao governo alagoano, senador Divaldo Suruagy (PMDB), já negocia com o setor um terceiro acordo.
Segundo disse Pedro Collor à CPI do Collorgate, foram desses acordos que seu irmão Fernando Collor conseguiu US$ 25 milhões para iniciar sua campanha.
Ainda na CPI, descobriram-se notas fiscais da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas e de outras usinas, transferindo cerca de US$ 350 mil para a EPC.
A EPC era a empresa do empresário PC Farias que recebia as supostas propinas de empresários que queriam informações privilegiadas do governo Collor, segundo relatório da CPI do Collorgate.
Com Collor na Presidência, a Cooperativa dos Usineiros de Alagoas teve uma dívida de US$ 86 milhões paga ao Midland Bank, da Inglaterra, pela agência do Banco do Brasil das Ilhas Caimã, um paraíso fiscal caribenho.

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