São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Por enquanto, truco

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Que juros um investidor deve pedir para aplicar seus recursos até o mês das eleições?
O governo tem dito que quer, com a inflação baixa, alongar os prazos das aplicações. Faz sentido. É assim em qualquer país civilizado.
O governo tem dito que vai usar os impostos para estimular esse movimento. Quanto menor o prazo da aplicação, maior o imposto e vice-versa.
Mas já é, em parte, assim. Hoje, quem aplica por menos que quatro dias saca menos do que depositou. Por hipótese, aplica R$ 100,00 e saca R$ 99,80. Por causa dos impostos.
Alongar, então, vai significar aumentar os impostos sobre os saques até, digamos, 30 dias e, inversamente, diminuí-los vencido esse prazo.
Na prática, isso pode significar que, depois de 27 dias, quem aplicou R$ 100,00 saca, por exemplo, R$ 101,00 –se a inflação do período foi de 1%. Mas que investidor abriria mão de seus recursos por um prazo tão grande para obter apenas a atualização monetária?
Sem inflação, argumentam, não se justifica a sanha para que os recursos acompanhem as flutuações diárias dos juros no over, antes do Plano Collor, ou nos fundos, hoje em dia.
Sem dúvida, não parece muito civilizado esse jogo em que os primeiros que perdem são os que não podem participar dele, por falta de fundos.
Estranhamente, porém, enquanto se fala em alongamento dos prazos, mais e mais analistas e operadores têm olhado só para o dia-a-dia e, especialmente, para o que o Banco Central faz do juro diariamente.
A maior discussão do mercado é ainda uma pauta do hoje: a velocidade e o ritmo de queda das taxas de juros.
Estamos na transição. Desculpe-se. Agosto será outro mundo. Mais perto da eleição.
O governo não está errado em formular regras que possibilitem o alongamento. No Brasil, coisa esquisita, já se negociou CDB de seis meses –uma eternidade, hoje em dia.
Mais tem de ser cauteloso. Não se pode forçar o alongamento, se o futuro é só de incertezas. Corre-se o risco de mirar no pato e matar o cachorro –querer o alongamento e empurrar os recursos para o consumo e ativos reais.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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