São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Melhoria contínua reduz perdas na Delco

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
ENVIADA ESPECIAL A PIRACICABA

Redução de 50% no número de acidentes de trabalho e de 40% no nível de desperdício. Aumento de 35% na produção e de 15% no índice interno de qualidade.
Os resultados, surpreendentes, foram obtidos em menos de três anos na Delco Remy do Brasil, subsidiária da GM para produção de baterias, segundo o gerente-geral, Edgar Lourençon.
Eles são consequência da implantação, em 92, do Melco 2.000 (Programa de Melhoria Contínua).
Mas só se tornaram possíveis graças à "administração participativa modelo caipira", nas palavras de Lourençon.
Ao entrar na Delco, no distrito industrial de Piracicaba, interior de São Paulo, já se percebe que não se trata de uma fábrica administrada de maneira comum.
Todos, do porteiro ao gerente-geral, inclusive as poucas mulheres presentes, usam o mesmo uniforme: camiseta azul tipo pólo e calça bege clara de elástico.
Quem mostra aos visitantes os dois imensos galpões da linha de produção e explica como se faz baterias não é nenhum assessor da diretoria, mas sim um operador de produção, Maurício Bomback, 23.
O acesso aos operadores é livre. Nenhum "chefe" controla o que eles dizem aos visitantes. Aliás, não há "chefes", no sentido tradicional do termo.
Há 35 times de produção, formados pelos funcionários dos diversos setores, e apenas seis "coordenadores" desses times.
Os coordenadores, que ganham R$ 1.300 por mês, estão lá para resolver os problemas que os times não conseguem enfrentar sozinhos e ajudar na integração entre eles.
Não há cartão de ponto nem revista na portaria. As horas-extras são decididas pelos próprios times de acordo com as necessidades de produção. Os funcionários marcam as horas-extras em um cartão específico, sem controle da direção.
No refeitório da empresa comem sem nenhum controle tanto o gerente-geral quanto o operador.
Os times decidem contratações, demissões, fazem o controle de qualidade e do processo de produção, a manutenção preventiva e até a limpeza de sua área.
"Todo final de turno nós lavamos a fábrica. Ninguém gosta muito de fazer limpeza, mas você se acostuma", diz Bomback.
A fábrica, automatizada, possui máquinas que fazem controle de qualidade. Nela foram investidos US$ 50 milhões.
Os cerca de 300 operadores não se parecem nada com os tradicionais "peões": são jovens, tem idade média de 25 anos; muitos cursam universidade e alguns sabem até inglês. Todos ganham o mesmo salário: R$ 2,09 por hora.
"Queremos um funcionário predisposto a trabalhar em equipe, dar opinião, uma pessoa extremamente participativa. Incentivamos as críticas", diz Lourençon.
O objetivo inicial quando a fábrica foi aberta, em 90, segundo ele, era contratar pessoas com experiência anterior.
"Uma das nossas frustrações foi perceber que, não por culpa das pessoas, mas por causa da forma como se organizava o trabalho nas outras empresas, os candidatos com 10 anos de experiência não falavam, não participavam", diz.
Segundo Lourençon, a maioria desses candidatos com mais experiência pensava: é melhor você ficar quietinho, cumprir ordens, concordar com o chefe. "É justamente isso que não queremos aqui", afirma Lourençon.
Mercado
A participação da Delco Freedom, a bateria que não requer água da Delco, no mercado formal de reposição de baterias, estimado em 5 milhões de unidades ano, cresce.
Segundo Lourençon, ela passou de 14,34% em 92 para 17,68% em 93 e deve chegar a 23,60% este ano.
Ele diz que a GM decidiu abrir uma fábrica para produzir a Delco Freedom no Brasil por razões "mercadológicas".
"Um mercado de reposição total estimado em 8 milhões de baterias por ano tem um bom potencial", diz.

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