São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Gerar empregos é o desafio do próximo milênio

DA REPORTAGEM LOCAL

A geração de empregos é o maior desafio deste final de milênio e certamente será o mais sério problema do próximo.
A afirmação é do economista José Pastore, 59, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, em palestra na Folha da série "A Busca da Qualidade Total". Pastore falou sobre "Flexibilizar para criar empregos e melhorar a competitividade".
Para o economista, a geração de empregos depende de uma série de fatores. O principal deles é o custo para se criar uma nova vaga no mercado de trabalho.
Nos países industrializados, o custo estimado de um emprego é de US$ 100 mil –um apartamento de quatro dormitórios na Vila Mariana (zona Sul). No Brasil, é de US$ 30 mil –um automóvel Santana GLS zero quilômetro.
Além do custo, a geração de empregos depende de ambiente favorável. Pastore diz que a estabilização da economia é fator importante. "Sem um mínimo de previsibilidade o empresário prefere pôr o capital no mercado financeiro, onde a rentabilidade é maior e o risco, menor", diz.
Mas não é só. A flexibilização do mercado de trabalho também é fundamental, segundo Pastore. Aqui, o ponto central envolve os direitos trabalhistas.
Flexibilizar o mercado de trabalho significa simplificar a legislação trabalhista; reduzir os encargos sociais; transformar custos fixos em custos variáveis e descentralizar as negociações (deixando de lado os sindicatos).
É preciso eliminar os intermediários (como a Justiça do Trabalho); atrelar a remuneração à produtividade, lucros e resultados; adotar formas variadas de contratação e melhorar a qualidade da mão-de-obra.
Pastore entende que é complicado fazer tudo isso ao mesmo tempo. Entretanto, medidas simples poderiam ser postas em prática para ampliar o mercado formal de trabalho no país.
Ele dá exemplos. Na Espanha, que tem desemprego altíssimo (cerca de 25%), é possível contratar jovens com menos encargos sociais e até com menores salários.
É neste campo que o Brasil registra as maiores diferenças em relação a seus concorrentes. No Brasil, diz o professor, "é monumental o abismo social que separa os trabalhadores do mercado formal dos do informal".
No Brasil não há meio termo, diz Pastore. "Ou se contrata o trabalhador com todas as garantias legais ou sem nenhuma garantia".
Resultado: o trabalho informal, que era de 44,7% antes da Constituição de 88, hoje é de 54,1%. Em resumo, a falta de flexibilização joga o trabalhador do formal para o informal.
"A flexibilidade selvagem não nos interessa. Mas o 'garantismo legal' pode nos alijar. Temos de encontrar um meio termo. Precisamos de novas formas de contratação para enfrentar a concorrência", diz Pastore.
Como será o trabalho no futuro? Para o professor Pastore, daqui a 20 ou 30 anos o trabalho será realizado em um contexto completamente diferente do atual.
O trabalho concentrado em um só lugar será realizado em lugares diferentes. Dentro e fora das empresas. Muitas vezes, em casa mesmo. Alguns trabalhando para a empresa; outros, por conta própria. Porém, todos trabalhando com menos custos fixos e com produtividade mais alta.
No futuro, diz Pastore, "a flexibilização tenderá a se ampliar e vai pegar entre nós. Afinal, o Brasil tem de competir. É inevitável inovar. Não há como ficar fora da economia global".
"O Brasil não ficará parado porque seus protagonistas principais –trabalhadores e empresários– não aceitarão as consequências de tamanho desatino. O Brasil mudará por força da realidade", conclui Pastore.

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