São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Juro devolve este mês perdas de junho

GABRIEL J. DE CARVALHO; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO E

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
As taxas nominais de juros das aplicações despencaram do patamar de 50%, em junho, para 8%, no início de julho, mas a polêmica em torno delas não acabou. Pelo contrário, tornou-se até mais ácido o tom das críticas ao tamanho dos juros.
Na opinião de analistas ouvidos pela Folha, a conclusão de que os juros reais (acima da inflação) monitorados pelo Banco Central são escorchantes cai por terra se o foco da discussão for direcionado não apenas para julho, mas também para junho. Para a transição à nova moeda.
Observados os dois meses, a taxa até cedeu, embora, ao que tudo indica, não tenha sido esta a intenção do Banco Central.
Para calibrar os juros, Alkimar Moura, diretor de Política Monetária do BC, prefere olhar para a migração dos ativos financeiros e para o movimento de ativos reais.
O resultado da política do BC nos dois meses de transição, entretanto, será a reposição de perdas registradas em junho, quando o avanço dos preços em cruzeiros reais superou os juros das aplicações financeiras.
Quadro de julho
Se os juros de 6,5% estimados para todo este mês no mercado de DI (negócios por um dia entre bancos) são considerados absurdos, trabalha-se com o conceito de inflação ponta a ponta, ou seja, preços do dia 30 comparados com os do dia 1º.
Juro de 6,5% com inflação zero equivale a uma taxa real recorde de 6,5% ao mês, ou 112,9% ao ano.
Se a base for 5%, que é a taxa média de inflação estimada para o primeiro mês do real, calculada através da comparação de preços em reais com preços urvizados em junho, o juro real bruto seria de 1,43%, ou 18,6% ao ano.
Para a economia brasileira, taxa desse porte não pode ser considerada alta, ainda mais nesta fase delicada de transição.
Quadro de junho
Se o conceito de inflação ponta a ponta vale para a análise dos juros reais em julho, deve ser utilizado também para junho, quando a inflação em cruzeiros reais disparou às vésperas da virada da moeda.
Medida entre os dias 1º e 30 de junho, estimam técnicos da Fipe, a inflação em cruzeiros reais deve ter batido nos 55%.
Como as taxas do CDI fecharam aquele mês em 48,43%, segundo a Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), o juro real efetivo teria sido negativo em 4,43%.
A média das taxas de inflação de junho em cruzeiros reais, com base em cinco dos principais índices, resultou em 47,64%. Nesta comparação, o juro teria sido positivo em apenas 0,54%, ou 6,68% ao ano, pouco mais do que é garantido por lei à poupança.
Os dois meses
Uma receita para se decifrar o enigma dos juros é olhar não apenas um mês, mas os dois da transição para o real.
Usando-se as taxas de inflação calculadas fora do critério ponta a ponta, chega-se a um juro real acumulado, nos dois meses, de 1,97%.
Isto equivale a 0,98% ao mês ou 12,42% ao ano, bem abaixo da taxa de juros reais ao ano praticada em leilões do Banco Central, para títulos pós-fixados de longo prazo.
Este é o resultado da comparação entre juros nominais de 58,08% em junho/julho (48,43% x 6,5%) e uma inflação acumulada de 55% –considerando-se zero para este mês.
Os juros reais nos dois meses de transição equivaleriam a 0,99% ao mês ou 12,52% ao ano –praticamente o limite imposto pelo Constituição, ainda não regulamentado pelo Congresso.

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