São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rumo ao tetra e à conquista do desenvolvimento

ANTONIO KANDIR

Quando este artigo estiver sendo lido, estaremos a algumas horas da final Brasil X Itália. Foi uma árdua caminhada até aqui. Vencemos as partidas decisivas sempre ao apagar das luzes, sem folga no placar e sem sossego para o coração do torcedor: Bebeto definiu aos 30' contra os EUA; Branco desempatou aos 36' contra a Holanda; e Romário livrou-nos da agonia aos 35' contra a Suécia.
A caminhada da seleção lembra a vida do país nos últimos cinco anos. A década de 90 tem sido árdua para todos os brasileiros. Mas, que avançamos e vencemos desafios, quem há de negar?
Vencemos as resistências à abertura comercial, enormes numa economia que se desenvolveu a partir do fechamento à concorrência internacional. Fechamento estratégico para dar impulso à industrialização, mas ruinoso para elevar a qualidade de uma estrutura industrial estabelecida e integrada.
Com a abertura, as empresas daqui tiveram de se haver com um mercado mais competitivo, de consumidores mais exigentes. Resultado: ganhos expressivos de qualidade e produtividade.
Vencemos também as resistências ao programa de privatizações, que se completou no setor siderúrgico e deu passos largos nos setores de fertilizante e petroquímico.
Avançou assim a reestruturação produtiva, através da redefinição do papel do Estado, e ampliaram-se os instrumentos e alternativas para a solução do problema fiscal do setor público.
Começamos ainda a romper com um padrão de representação política que resultou na destruição do crédito do Tesouro, em dificuldades para financiar o déficit público e, como consequência, em inflação elevada.
Um padrão de representação alimentado pela privatização do Estado, pela destruição da coisa pública, pelo conluio entre determinados grupos privados, corporações do setor público, certos burocratas e políticos, como o escândalo do Orçamento mostrou.
Graças a essas mudanças, estamos hoje em condições favoráveis para vencer a luta contra a inflação, consolidar a estabilidade econômica e retomar o desenvolvimento em bases sólidas.
São todos processo inconclusos, é verdade. Mas o que lhes dá substância é o fato de serem, ao mesmo tempo, causa e efeito do surgimento de novas forças sociais: um empresariado industrial e agroindustrial que não depende do Estado e está orientado para a internacionalização; setores de classe média onde é marcante o espírito de empresa e intensa a rejeição ao fisiologismo; um sindicalismo de trabalhadores que aposta na livre-negociação e no pluralismo.
O que falta para emprestar impulso renovado e maior consistência a esse processo de modernização, minorando os custos do ajuste estrutural e fortalecendo a perspectiva estratégica de médio e longo prazos?
O que falta para que a modernização resulte em um novo modelo de desenvolvimento, que combine crescimento e superação da miséria, nos marcos de uma economia internacionalizada?
Falta orientação firme e inequívoca no plano das políticas de governo. Falta reconstruir o Estado.
Por isso, as próximas eleições são cruciais, não só para determinar os rumos do país nos quatro anos seguintes, mas nas próximas décadas. Há eleições em que as alternativas possíveis não afetam os destinos do país, seja porque não há distância maior entre as propostas dos candidatos, seja porque não estão em pauta questões decisivas, de longo alcance.
Mas essas não são eleições quaisquer. Nelas, vamos escolher o Brasil que teremos nas primeiras décadas do século 21, se um país com um projeto nacional moderno ou se um país entorpecido pelo nacionalismo populista. Já demoramos demais para fazer essa escolha em definitivo.
Como nos gramados, saberemos decidir, ainda que ao apagar das luzes deste século, sem prorrogação, sem nos arriscarmos na loteria dos pênaltis. Está chegando a hora. Vamos vencer.

Texto Anterior: Prazo DCTF; INSS; Prorrogação de entrega; Redução de alíquota; Acidentes de tranportes; IR - pessoa física; FGTS
Próximo Texto: O SOBE E DESCE
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.