São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Tri marca memória de torcedores ilustres

MÁRIO MOREIRA; CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O que você estava fazendo no dia 21 de junho de 1970?
Para os brasileiros que, na época, já tinham cinco anos ou mais, essa pergunta certamente traz doces recordações.
Naquele dia, na Cidade do México, a seleção brasileira de futebol goleou a italiana por 4 a 1 e sagrou-se tricampeã mundial, conquistando definitivamente a Taça Jules Rimet.
O cantor e compositor Tom Zé se recorda com detalhes da vitória de 70. "Fui assistir ao jogo na casa de um amigo com o Jorge Amado (escritor) e o Aldemir Martins (pintor)", narra.
"Me lembro que saí para comemorar com eles e outros amigos na avenida Paulista. Muitas pessoas gritavam coisas pornográficas sobre os italianos", diz Tom Zé.
Para o compositor, aquele ano foi especialmente alegre. "Ganhei o festival da Record e a música 'Jeitinho Dela' virou hit em São Paulo."
O empresário da noite José Vítor Oliva, então com 16 anos, também lembra-se daquela data.
"Vi o jogo com alguns amigos na minha casa, na rua Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins. Depois, pegamos o ônibus 615, que subia a rua Augusta, e saltamos na avenida Paulista para comemorar", conta.
"Ficamos lá até 3h ou 4h da manhã. Como o dinheiro não dava para o uísque, fomos de cerveja, mesmo", relembra Oliva. "Mas em 82, quando perdemos para a Itália, foi o uísque que me ajudou a esquecer."
Outro que festejou o tricampeonato na avenida Paulista foi o artista plástico Fernando Zarif. Mas sua lembrança não é tão viva.
"Tinha apenas dez anos. Só me lembro que assisti ao jogo em casa com a minha família e que depois fui comemorar."
A cantora Beth Carvalho assistiu ao jogo no Rio e caiu no samba para festejar a vitória. "Estava toda vestida de verde e amarelo, para dar sorte", conta ela.
O artista plástico Luiz Paulo Baravelli, porém, confessa que teve uma certa hesitação na hora de comemorar o tri.
"Eu estava com uns amigos que conhecera na Escola Brasil. No final do jogo, ninguém sabia muito o que fazer, pois não estávamos esperando muito da partida", diz Baravelli.
"Mas lembro bem de estar sentado no encosto de um Karman-Ghia vermelho, com um monte de bandeiras, em plena avenida Brasil."
Alguns, como o cineasta e escritor João Silvério Trevisan, guardam recordações curiosas daquele 21 de junho.
"Depois do jogo, saí fantasiado de Oswald de Andrade, com um velho terno de linho e um cocar na cabeça. Coloquei todo o meu esquerdismo no bolso e me diverti na rua. Sabia que a vitória era conveniente para o governo da época, mas comemorei muito", afirma.
À época, ele tinha acabado de rodar o filme "Orgia, ou o Homem que Deu Cria". "Por isso, minha felicidade foi dupla."
Outros assistiram à partida fora do Brasil, como professor de filosofia Paulo Eduardo Arantes, que se encontrava em Paris.
"Estava fazendo minha tese de doutorado lá. Depois de beber um pouco, cometi a imprudência de comemorar em uma pizzaria italiana. Soou provocativo, mas não saiu briga com os garçons."
Para o dramaturgo Dias Gomes, a conquista do tri não chegou a ser tão marcante. Ele assistiu ao jogo em casa, na Lagoa (zona sul do Rio), ao lado da primeira mulher, a autora de novelas Janete Clair, e dos filhos.
"A derrota na Copa de 50 foi muito mais marcante. Junto com alguns amigos, eu tinha comprado um camarote no Maracanã, de onde assisti aos jogos da seleção brasileira", conta.
"Só não fui à final, contra o Uruguai, porque meu primeiro filho tinha acabado de nascer. Como o Brasil perdeu, durante algum tempo me senti culpado pela derrota", conta, bem-humorado.

Colaborou CELSO FIORAVANTE, da Redação.

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