São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Sonho com o tetra 'amarela' em 20 anos

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Se antes de ganhar qualquer título o brasileiro já se considerava o melhor do mundo, imagine depois de levantar o caneco por três vezes, em quatro Copas disputadas?
Pois foi com esse espírito que o Brasil desembarcou em 74 na Alemanha. Zagalo, o técnico, se escudava nas suas superstições e no talento dos jogadores remanescentes da conquista do México como Leão, Clodoaldo, Rivelino, Jairzinho e Paulo César, mais os talentos emergentes de Luís Pereira, Marinho Perez, Marinho Chagas, Carpeggiani, Leivinha etc.
Ademir da Guia e Edu, ponta do Santos, eram dois fardos que Zagalo carregava para cima e para baixo impostos pela mídia de São Paulo.
Afinal, Ademir da Guia não era apenas um grande meia-armador. Era, na verdade, o único que cumpria religiosamente tão nobre função no futebol brasileiro da época. Rivelino não tinha equilíbrio para assumir tal papel e, Paulo César Caju, não tinha estofo.
Restava Carpeggiani, que acabou tendo de substituir Clodoaldo, num corte traumatizante, já nas vésperas da Copa.
Zagalo tinha tamanha auto-confiança que jamais se dignara, nos quatro anos que separaram o tri do início do calvário do tetra, a ir observar um time holandês jogar, embora Feyjnoord e Ajax viessem ganhando tudo na Europa e Cruyff encantando o mundo.
Resultado: depois de uma sofrida classificação para as semifinais, na qual tivemos de suar para bater o Haiti por três gols de diferença, coube-nos exatamente a Holanda. Foi o início da longa fila de 24 anos de espera: 2 a 0 para os holandeses.
Quatro anos mais tarde, o homem certo, na hora errada: Cláudio Coutinho, até então, preparador-físico, supervisor da seleção do tri, assumiu a seleção em plenas eliminatórias, numa crise que resultou na demissão de Osvaldo Brandão, o técnico na época.
Coutinho era um homem inteligentíssimo, conhecedor profundo das teorias do futebol, mas que não tinha sido técnico no Brasil. Treinara a seleção do Peru e o Olimpique de Marselha. E só.
Adiante do seu tempo, Coutinho queria um time de polivalentes, mas escalou uma equipe de especialistas. Mesmo assim caiu invicto. Ficamos em terceiro, sonhando com o tetra.
Assim como em 90, quando a CBF optou por um treinador iniciante e com pretensões a renovador: Sebastião Lazzaroni. Uma escapada de Maradona, um toque e Caniggia despachou-nos de volta com o sonho do tetra ainda na bagagem, já amarelecido.

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