São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994 |
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Falências iniciam nova era na economia russa
REGINA CARDEAL
O gesto voluntário da empresa tem a força de um símbolo: o de que as reformas russas estão caminhando. Na forma atual, a falência é uma novidade integrada à legislação russa desde 1993. Mas só na última quinta-feira, com a Montzhzapchast, os russos começaram a ver na prática o que acontece quando o Estado deixa de resgatar uma companhia quebrada. A Montazhzapchast foi a primeira da série. No mesmo dia, duas outras indústrias foram declaradas oficialmente insolventes. Nestes casos, a iniciativa partiu do governo. Foi o começo do teste de mais uma lei do mercado na Rússia. A previsão é de que, até o final do ano, pelo menos 2.000 empresas entrem para a lista das concordatárias ou falidas. O resultado esperado é um drástico salto no desemprego. A altura do salto pode determinar se a Rússia entra de vez na economia de mercado ou no caos social. O desemprego real é desconhecido. A taxa de 6,5% está distorcida para baixo, como tantas outras estatísticas na Rússia. A impressão que se tem, pelos dados oficiais, é que a toda a economia está à beira da falência. Nos seis primeiros meses do ano, a produção industrial caiu 26%. Por brutal que pareça, a queda da produção pode ser um sinal positivo de desativação de uma indústria acostumada a produzir bens que os russos só compravam por falta de melhor opção. Essa é a interpretação que economistas ocidentais, ouvidos pelo jornal norte-americano "The Wall Street Journal", dão ao formidável encolhimento oficial da economia desde o início da transição ao capitalismo. Pelos parâmetros do governo de Moscou, o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 50% do final de 1991 até agora. O governo ainda monitora a economia centralizada e seus dados são desastrosos. Nas ruas, contornando pesados impostos e a burocracia, floresce uma economia informal que, calcula um economista para o "Wall Street", se prepara para crescer 41% este ano. Nas contas do economista, o PIB russo estava em US$ 174 bilhões ao final de 1993 e vai chegar este ano a US$ 246 bilhões. Isso daria uma ainda sofrível renda per capita de US$ 1.660 –pouco mais alta que a paraguaia. A economia russa deve se situar em algum ponto entre o catastrofismo oficial –por vezes um bom instrumento para convencer o Ocidente da urgência de ajuda financeira– e a euforia de economistas ocidentais, convencidos da eficácia das reformas. Se o estado da economia é uma incógnita, a irreversibilidade das transformações parece certa. Como explicou Alexander Livshits, assessor econômico do presidente Boris Ieltsin: "As reformas na Rússia são como uma bicicleta", disse. "Você pedala sem parar e finalmente chega a algum lugar, mesmo que tenha ido na direção errada. Parar significa cair." Texto Anterior: <FT:"MS Serif",SR><PT:14>Krasnaya Zvezda; Corriere della Sera; Rádio Pyongyang; Libération<FT><PT> Próximo Texto: Pós-guerra acentuou domínio dos EUA Índice |
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